A prolongada crise política e econômica pela qual passa o Brasil explica-se, em grande parte, pela falta de ética no encaminhamento dos recursos públicos, devido à corrupção e à roubalheira.
Consiste na prevalência de interesses individuais, corporativos e empresariais sobre o bem comum da Nação Brasileira e de seus cidadãos. Escancara, lamentavelmente, a degeneração da política, desde sua falsificação pela politicagem, isto é, demagogia e populismo, até o enriquecimento ilícito dos que exercem poder decisório.
A política suja ou degenerada é o oposto da política limpa e nobre, tão necessária para manter instituições justas e eficientes. A beleza do sentido ético desta política é que fez com que Paulo VI a idealizasse como sendo a “alta expressão da caridade”, virtude cristã por excelência. O Papa se referia à política no seu sentido originário, isto é, aquela que só visa ao bem comum dos cidadãos. Desta nobilíssima política, o Brasil anda muito precisado e de lideranças representativas autênticas.
A oração, ao expressar a vontade da boa política, no sentido ético, segundo o direito e a justiça, é uma constante na Palavra de Deus contida em vários textos bíblicos. Quem pede, sabe o que deseja e colabora com o que pede. Compromete-se. Eis o significado da súplica de teor político na Bíblia.
O grande líder, Moisés, o legislador, foi intercessor. Pediu a Deus em favor de sua gente a ser conduzida por 40 anos até a terra da promessa. Disse na sua súplica: “Peço-te, caminha conosco; embora este povo seja um povo de cabeça dura…e toma-nos como tua herança” (Ex 34,9). Não olhou tanto para si mesmo, pois era líder e sabia contemplar sua gente e vê-la, adiante, em futuro promissor.
Salomão, o rei sábio e justo, fez a oração do autêntico político que entende a si mesmo com o bem de seus governados. Disse: “Dá, pois, a teu servo um coração que escuta para governar teu povo e para discernir entre o bem e o mal, pois quem poderia governar teu povo, que é tão numeroso? ” (1 Rs 3,9).
Igualmente, o próprio povo ao celebrar sua fé e esperança, salmodiava em prece, idealizando um rei messiânico cujo modo de exercer o poder resumiria em si as melhores expectativas: “que ele governe teu povo com justiça, e teus pobres conforme o direito” (Sl 72(73), 1).
O apóstolo Paulo propôs uma oração política universal quando exorta: “Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm a autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade” (1 Tm 2, 1). A seguir, expressa sua boa vontade com determinação: “Quero, portanto, que os homens orem em todo lugar, erguendo mãos santas, sem ira e sem animosidade” (v. 8).
Enfim, a oração do Pai-nosso, a melhor de todas, sintetiza os pedidos de Jesus Cristo para instaurar o Reino que venha a nós. É toda ela referente à nobre política da realização dos bens sociais, pois, o Pai é comum, o pão é nosso, o perdão é pacificador, a tentação é superada e o mal é afastado. Maravilha!
Gestos e palavras de Jesus, embora apartidário, igualmente ensinam-nos muito sobre a construção social na fé e na caridade, abertas à esperança da pátria definitiva. Há, inclusive, uma atitude que, para muitos, demonstra amor patriótico, embora seja bem mais do que isto. Chorou sobre Jerusalém. Na ocasião, disse-lhe: “Ah! Se neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz! ” (Lc 19, 42). Diante da cegueira e da rejeição de Jerusalém por causa de suas lideranças, só restava a Jesus anunciar a ruína iminente. Porém, a lamentação não deixou de incluir um aceno discreto à possibilidade da paz.
O Brasil precisa ver sua política higienizada. Para tão ampla urgência, não há fórmulas mágicas e milagrosas de salvação. Por isso, rezar pelo Brasil é suplicar ao Senhor das nações tão somente que nos ajude na empreitada, que é nossa, e é de interesse coletivo. Permita-nos, pois, em sua luz divina descobrir as reservas humanas (e materiais) de superação para a retomada de reformas inadiáveis. Portanto, orar pela Pátria é comprometer-se com o Brasil real, não com o “oficial”. Ainda mais: Se rezo pela política saneada, tenho eu mesmo de apreciar a honestidade e, acima de tudo, ser honesto (a).