É tempo de bailar, diz o Eclesiastes. Apesar da vergonhosa crise por que passa o País, festejamos.
Um povo que deixasse de dançar e cantar, também deixaria de existir. Dança, canto, jogo, festa, fazem parte da dimensão lúdica de quem está vivo. Assim sendo, nossas festas juninas expressam a alegria de uma gente viva que ainda sonha acordada.
Ligadas a três santos católicos de devoção, as festas de junho resistem ou persistem. O termo resistência é conveniente diante de dois polos de oposição: de um lado, a secularização que as afasta de sua referência devocional, tornando-as simples diversão, e, de outro, a urbanização que lhes reduz o espaço nos grandes centros. A resistência e a persistência se explicam devido à herança portuguesa do catolicismo devocional e festivo, alma de nosso substrato cultural.
No dia 13 de junho, chega Santo Antônio, nascido em Lisboa. Entende-se por que se tornaria o mais popular e muito querido dentre os santos, no Brasil. É o santo da casa: do amor no namoro, no casamento, na família; do pão na mesa, da fartura do alimento, fruto do trabalho; do achado das coisas perdidas pelo lapso de memória. O frade franciscano nos recorda o amor para com os pobres e desvalidos. Ensina-nos a caridade solidária, pois há mais alegria em dar do que em receber. As alegrias, pequenas e grandes, dão satisfação à vida. Portanto, a alegria impregna sua festa. O Menino Jesus em seus braços aumenta a satisfação.
No dia 24 de junho, chega São João que dispensa as apresentações, pois em todo o Nordeste é sinônimo dos festejos juninos. Seu nascimento haveria de trazer grande alegria para o mundo inteiro. Trouxe-a, primeiramente, a Zacarias e Isabel. Não imaginavam que teriam um filho na velhice. Trouxe-a também para os vizinhos, amigos do casal. Ele próprio pulou de alegria no ventre da mãe, quando visitado por Maria. Assim, recordamos que Maria é causa de nossa alegria: ela nos traz o Salvador. Acende-se a fogueira, símbolo da luz verdadeira, que dissipa as trevas do mundo sem Deus. Significa que João não é a luz, mas veio para dar-lhe testemunho. Veio para anunciar Jesus e preparar-lhe os caminhos. Por isso, também a alegria domina sua festa.
No dia 29 de junho, chega São Pedro com sua velha simpatia. Deixa de ser pescador para se tornar pastor da Igreja. Muitas vezes, seria repreendido pelo Mestre. Incorrigível, aprendeu com dificuldade a usar as chaves da liderança que recebera. Reassumiu seu amor para com o Mestre, após as vergonhosas negações, e caminhou à frente do rebanho do Senhor, desde Pentecostes até o martírio. A alegria toma conta de sua festa, pois nos ensinou: “na medida em que participais dos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos, para que também na revelação da sua glória possais ter uma alegria transbordante” (1 Pd 4, 13).
Os santos de nossa devoção são amigos de Deus. Estão próximos de Jesus. São reconhecidos como nossos padroeiros e protetores. Sua devoção cria cultura expressa em músicas, roupas, encenação, decoração e culinária inclusive as quadrilhas. Quanto a estas, são a popularização criativa de danças da corte advindas com a chegada da Família Real, em 1808. Em todo o território nacional, os elementos comuns, diferenciados e novos, nos Estados e regiões, levam-nos a apreciar este nosso patrimônio cultural imaterial. Que nossas Comunidades valorizem e cultivem tais riquezas da nossa cultura!