Na sexta-feira da segunda semana depois de Pentecostes, celebraremos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Neste ano de 2017, ocorrerá no próximo dia 23 de junho.
A oração da Missa resume o sentido da festividade: a alegria de celebrar o Coração do Filho de Deus; a meditação das maravilhas do Seu amor; a recepção de graças que brotam desta Fonte de Vida.
A palavra coração com o sentido que vai além do órgão físico existe em todos os idiomas. Faz parte do tesouro originário da linguagem humana. Significa tanto a unidade do ser humano quanto sua totalidade. Pode ser sua intimidade, o que tem de mais secreto e próprio e que, no entanto, se revela ou se comunica. Pelo coração exprime tanto o enigma quanto o mistério de sua existência, sem resolvê-los.
Na Bíblia, muitas vezes o coração é o lugar onde atua a liberdade humana de escolha e de decisão. É mais do que livre-arbítrio. O próprio amor a Deus na totalidade do ser só existe a partir da Lei divina a dizer: “de todo o coração”. Assim sendo, é o ponto no qual o homem confina com o mistério de Deus e, tomando consciência da sua origem, a Ele se doa, saindo de si, ou se nega e se condena. Portanto, é o lugar ou a condição do exercício sublime da liberdade, da opção fundamental e decisória pelo Sumo Bem.
Todavia, é necessário desmistificar e purificar o termo, pois não significa amor, de imediato. De fato, o íntimo do homem e da mulher pode também ser perversão e até a recusa em amar. Quem nunca ouviu o termo coração cheio de ódio? O próprio profeta aponta para o coração de pedra que precisa do transplante do coração de carne.
A representação do coração físico é um símbolo, não uma reprodução. Fica claro quando se quer falar de amor com o gesto da mão a sugerir um pelo outro. Todavia, não é um símbolo convencional nem arbitrário, pois a corporeidade é parte constitutiva da pessoa. De fato, ela se expressa pelo corpo. O termo coração é até insubstituível. Tal qual o amor, impossível não o encontrar na linguagem poética e religiosa. Não permite ser substituído por palavras abstratas. O amor do coração é o verdadeiro e é concreto. Quem ama, entende. O mesmo se diga de Jesus. Quem o ama e é amado, sabe pronunciar a expressão Coração de Jesus. Fala de coração a Coração. Por isso, na “representação”, que é a imagem, ele pula de dentro para fora. Simboliza o oculto.
Podemos apresentar ao mundo e às pessoas o Coração do Homem-Deus: Eis o Coração que verdadeiramente ama! Porém, o que significa afirmar que o Filho de Deus tem um Coração que também é humano? Que significa afirmar que tal coração deixou-se transpassar pelo pecado do mundo? A resposta é dada por toda a pregação e o testemunho da Igreja. A resposta é também o modo como celebramos a Solenidade do Sagrado Coração e pelo espaço festivo que ocupa em nosso próprio coração.
Em suma, o Filho de Deus assumiu um coração para a redenção do Homem e levou até o fim e às últimas conseqüências a decisão de seu amor. Desde, então, coração deixou de ser um termo que só se refere ao centro da existência humana. Foi introduzido em Deus e na mensagem do seu relacionamento conosco, em Cristo, tal como Jesus disse: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).