O quinto Domingo da Quaresma antecipa o tema da Páscoa ao abordar a vitória da vida sobre a morte.
Há convergência entre as leituras e com o sentido da Quaresma: preparar-nos para as alegrias pascais; ajudar-nos a celebrar a semana santa com fé e esperança; aplicar à nossa existência às várias imagens de ressurreição inclusive a vitória contra o pecado mortal.
Ezequiel vê o retorno dos israelitas, após o segundo exílio, sob a metáfora da ressurreição, a partir da ossada com a qual simbolicamente os identificou. Trata-se da futura vitória da vida social, política e religiosa a ser restaurada com o auxílio de Deus: “vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor” (Ez 37, 12-13). Também hoje, como povo ou indivíduos, nós somos solicitados a realizar a restauração política e a promoção social como ação contínua e inacabada. Parece impossível diante da cultura da morte e de tantos impedimentos? Como outrora, ouçamos o apelo da fé para sairmos do sepulcro da paralisia, que é o desânimo, vencendo o derrotismo que não deixa agir. Poderá acontecer um recomeço.
É ilustrativo que Jesus, diante da sepultura do seu amigo, ordena com voz forte: “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43). A seguir, acrescenta: “Desatai-o e deixai-o caminhar!” (Jo 11, 44). A cena é solene e impressionante, pois o Mestre enfrenta o poder da morte, de consequências irreversíveis, conforme constatara Marta: “Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias” (Jo 11, 29). Jesus, no entanto, age, enfrenta. Porém, não dispensa a colaboração de quem desata. Além disso, cabe ao redivivo caminhar ou ir adiante. É ele quem sai do sepulcro.
O sentido do sinal é dado pelo próprio Jesus na conversa com Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (Jo 11, 25-26). Quem é de Jesus experimenta a vitória da vida, sempre.
Quanto a Paulo, impregnado pela mesma fé e esperança na ressurreição de Cristo, afirma: “aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8, 11). Trata-se de aplicação da profecia de Ezequiel, porém, atualizada na vida do discípulo: “Porei em vós o meu espírito e vivereis” (Ez 37, 14). Espírito Santo é quem leva adiante a redenção obtida por Jesus Cristo, fazendo-nos participantes da vitória sobre qualquer tipo de morte. De fato, é Ele o sopro vital.
Por tantas lembranças de ressurreição possível, o quarto Domingo da Quaresma serve de estímulo a mergulharmos no mistério da Páscoa do Senhor. Anima-nos a celebrarmos os acontecimentos pascais da nossa salvação perpetuados no tempo. Provoca a renovação de nossa profissão de fé no destino último: a ressurreição da carne e a vida em Deus.
Viver a Páscoa significa também ressuscitar com Cristo para a vida nova da graça. Por isso, acolhamos o convite feito por Paulo: “Celebremos a festa não com o velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade” (1 Cor 5, 8).
Enfim, não há situação irreversível para quem se abre ao ato de crer. Em qualquer círculo vicioso ou qualquer circunstância escravizadora na qual se encontre, poderá ouvir e realizar a voz do Mestre: vem para fora!