A solenidade da manifestação do Senhor aos magos ou sábios do Oriente que se encaminham a Belém, atraídos pela estrela, simboliza o Evangelho da alegria comunicado às gentes.
É o Evangelho que atrai e fascina os que estão longe. Jesus que se deixa encontrar. Encurta as distâncias sem eliminar as ameaças, representadas por Herodes. Assim, o caminho integra o empenho fatigoso.
A narrativa da visita dos sábios é composta pela alegria. Particularmente quando “eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente” (Mt 2,10). Não perderam o rumo. Não andaram em vão. Encontraram “o rei dos judeus recém-nascido” (v. 2). Viram “sua estrela no seu surgir” (v. 2). São etapas de uma satisfação crescente e sem medida. Em si o nascimento de um rei sempre provoca regozijo.
Para os sábios, o contentamento já começara com a escolha dos presentes. A satisfação é, sobretudo, de encontrá-lo: “Ao entrar na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam” (v. 11). É a alegria partilhada nos dons distribuídos: “em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” (v. 11). Quer dizer que a enculturação do Evangelho é a história da mútua recepção pela qual o patrimônio da fé se enriquece.
A felicidade que o Evangelho proporciona é fruto de um encontro ou do reencontro com Jesus. Esta é a afirmação do Papa Francisco na “Evangelii Gaudium”. Recorda e cita Bento XVI, quando disse: “Ao início de ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (EG 7). Os sábios do Oriente vivenciaram o encontro com um acontecimento. Eles se encontraram com uma Pessoa. Por isso, houve mudança. Transformados, “regressaram por outro caminho para a sua região” (v. 12). Este “outro caminho” é a diferença qualitativa da experiência. Não precisavam mais de estrela guia. Emanciparam-se da tirania do destino. Romperam com o determinismo astral. Aboliram a idolatria e a superstição. De agora em diante, Jesus é a luz do novo caminho de vida.
Disse o Papa Francisco: “Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro” (EG 8). Eis o “outro caminho”, o itinerário espiritual de retorno dos sábios. Nova via que haveriam de percorrer. Nunca mais seriam os mesmos.
O “outro caminho” dos sábios do Oriente é também a decisão de comunicar tamanha alegria em suas regiões de origem. Sabemos que tal experiência é em si mesma contagiante e comunicante ou difusa. Daí, a pergunta do Papa: “se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de comunicá-lo aos outros?” (ibidem). Questiona, pois, nosso empenho evangelizador. A resposta só pode ser a prática missionária dos discípulos.
Celebremos a Epifania do Senhor com a “chave missionária” pela qual o Papa motiva-nos a uma Igreja aberta, em saída, para rumos diferenciados e as novas enculturações. Igreja que aceita quaisquer desafios e os supera em missão. Igreja que, pastoral e criativamente, escolhe outros caminhos. No tempo do apóstolo Paulo, era levar o Evangelho aos gentios, em meio aos riscos da rejeição até ao martírio. Dos tempos pós-apostólicos até hoje é a aventura da missão universal, nunca acabada, com diversas etapas históricas da decisão generosa daqueles que partiram.
No tempo presente, a missão integra a “mudança de época” como desafio próprio do terceiro milênio. Daí, a resposta confiante da “força de atração”, própria do Evangelho, sem proselitismo ou polêmica, em busca de diálogo mútuo –mais do que mera tolerância- e com a presença servidora, inclusive no novo “pátio dos gentios” e nos “novos areópagos”. Os projetos já são realidade ao saírem do mundo das ideias, das reuniões e conversações, dos documentos e seus papeis.