A festa de Nossa Senhora do Rosário, ocorrida no dia 7 de outubro, faz desta modalidade de oração uma das temáticas de todo o mês. A última aparição de Maria, em Fátima, no dia 13 de outubro de 1917, após declarar-se Senhora do Rosário e de estimular sua recitação em favor da paz do mundo, ligou ainda mais o mês em curso a esta prática devocional.
Sabe-se que a contagem das orações por meio de continhas interligadas numa espécie de corrente é costume antigo, presente não só no catolicismo com a chamada “coroa do rosário” ou de rosas, mas também em outras religiões. Exemplo: a hindu e a mulçumana.
Quanto ao costume de repetir ave-marias intercaladas com o pai-nosso, glória ao Pai e meditação dos mistérios remonta ao século XII. Por volta de 1328, atribuiu-se a São Domingos a salvação do mundo cristão em perigo à sua pregação sobre o rosário. A ameaça vinha de três frontes: a heresia dos albigenses, as invasões dos mulçumanos e a ignorância dos mistérios da fé e das virtudes cristãs. Os Frades Pregadores, conhecidos como dominicanos, uniram a cristandade por este método simples e acessível de transmitir a fé: orar e meditar os mistérios do rosário.
É muito conhecida a imagem de Nossa Senhora, sentada, e entregando o rosário a São Domingos de Gusmão e a Santa Catarina de Sena, ajoelhados. A imagem traduz a ligação do rosário com Maria e de ambos com a Ordem dos Pregadores, conhecidos como dominicanos (as), devido ao nome do santo fundador.
A celebração do Santíssimo Rosário de Nossa Senhora deriva da festa de Santa Maria da Vitória, instituída pelo papa dominicano, São Pio V, depois da luta vencida pelos cristãos contra a frota turca, em Lepanto, no dia 7 de outubro de 1571.
Após o Concílio Ecumênico Vaticano II, mudou-se o nome comemorativo para Memória de Nossa Senhora do Rosário. Não se enfocaria mais o objeto ou instrumento como arma poderosa contra os inimigos pessoais e da Igreja. O olhar é dirigido somente a Maria que nos oferece um meio de oração e de meditação, inclusive já confirmado nas aparições em Lourdes e, sobretudo em Fátima, quando teria dito: “Sou a Senhora do Rosário”. Logo, a mudança mais significativa proveio de decisão conciliar, em favor do diálogo religioso e do ecumênico como opção pastoral do novo relacionamento da Igreja com o mundo.
O olhar para Maria sempre esteve presente em quem dedilhava o rosário. Na ladainha já era invocada como sendo a Rainha do Santíssimo Rosário. Sobretudo, os santos e as santas de nossa Igreja e os papas sempre o recomendaram como expressão de devoção e de afeto para com a mãe de Jesus. São João Paulo II, com a mentalidade pós-conciliar, nos propôs contemplar Jesus por meio de Maria, na oração do rosário. Assim sendo, clareou o acento cristocêntrico e acrescentou os mistérios luminosos da vida pública do Senhor. Insistiu igualmente a orarmos com Maria a Jesus.
Digno de nota é que no Brasil escravocrata – colônia e império – as irmandades e as igrejas com o título de Nossa Senhora do Rosário sempre foram o lugar de encontro e de aceitação dos negros, escravos ou alforriados, espaço ainda que mínimo, mas possível de convivência social promovido pela religião católica. Certamente porque o rosário é o resumo do Evangelho ao alcance de todos: simples e abastados, intelectuais e iletrados.
Ensinemos às crianças e aos jovens a meditação do rosário como um dia nos ensinaram. Entreguemos em suas mãos, mentes e corações, o rosário com o evangelho e o catecismo. Cultivemos o substrato cultural da nossa devoção católica como herança a ser transmitida.