Alimentar o sonho e o desejo de libertação no exílio da Babilônia significava dar ânimo à esperança de reconstruir o povo e a nação e o culto. Por isso, o profeta, de modo poético, afirma da parte de Deus: “Eis que vou fazer coisas novas e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto…” (Is 43, 19).
Abrir estrada significa alimentar a profecia em ato, a esperança da libertação possível e o futuro próximo. Por isso, é necessária a advertência: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” (v. 18), ainda que fossem a abertura do mar e a passagem dos hebreus a pé enxuto. O povo se ergueria, agora, olhando para frente, mesmo diante das dificuldades, pois Deus já faz uma realidade nova, no deserto: “correr rios na terra seca” (v. 20). O Deus da vida recria. O Deus da Aliança dá de beber ao seu povo sedento (v. 20).
Jesus também abriu um novo caminho para a mulher surpreendida em adultério (Jo 8,1-11). Colocando-nos na cena como observadores, unimo-nos às pessoas reunidas em torno de Jesus. Para seus ouvintes, Ele abre um novo caminho de compreensão. Sentado e ensinando, Jesus comporta-se como mestre (v. 2). Se entrarmos na cena, acolheremos seu ensinamento que abre para nós um caminho novo de aceitação da lei nova: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15, 12).
Os mestres da lei e os fariseus trouxeram a mulher adúltera. Colocam-na no meio deles. A cena constrange a mulher posta no centro dos olhares. Será julgada ou melhor já está condenada à morte pelo apedrejamento, segundo a aplicação da lei antiga que os presentes conheciam bem e os acusadores defendem.
Na verdade, quem está em uma espécie de tribunal é Jesus e seu ensinamento e atitudes para com os pecadores. O evangelista desmascara a perfídia dos mestres da lei e dos fariseus na pergunta: “Que dizes tu? Perguntavam apenas para experimentar Jesus e terem motivo de o acusar” (v. 5-6).
Tratava-se de uma farsa, de um pretexto legal. Talvez por isso, Jesus inclinou-se e começou a escrever com o dedo no chão. Parecia ignorá-los. Não mereciam ser ouvidos, pois não procuravam a verdade e a justiça. Eram apenas acusadores com outras intenções. Enfim, Jesus se ergue, pois persistiam em interroga-lo. Responde envolvendo os próprios acusadores: “Quem não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe a pedra” (v. 7). Subitamente, passam a ser juízes de si mesmos, da própria consciência. Por isso, todos se retiram a começar dos mais velhos.
O final da cena é igualmente surpreendente. O mestre dialoga e não julga. Diz: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? … Eu também não te condeno” (v. 10-11). Não compactua com o pecado, mas dá uma nova oportunidade para a adúltera. Abre-lhe um caminho novo: “podes ir e, de agora em diante, não peques mais” (v. 11).
Abrir caminhos é a meta do discípulo libertado do farisaísmo hipócrita e do legalismo acusador. Abrir caminhos é possibilitar mudanças na vida das pessoas que erram, sem acusa-las, julgá-las ou humilhá-las. Abrir caminhos é a arte de facilitar a recuperação de quem precisa ou pede ajuda. Abrir caminhos é oferecer oportunidades de vida nova a quem peca.
Como sempre, um comentário bastante profundo e claro, de puro ensinamento do perdão. Ler Dom Edson e´prazeroso e doutrinario.
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