PALAVRA. EUCARISTIA. MISSÃO

Ao contrário da segunda manifestação aos discípulos (Jo 20, 19-29), em Jerusalém e às portas fechadas, o Ressuscitado vai ao encontro da comunidade dos discípulos, novamente, mas em sua atividade profissional de pescar. Atividade aberta e destemida, quase uma aventura mar a dentro. Esta terceira aparição junto às margens de Tiberíades relaciona o Senhor à missão junto às nações, através do trabalho perseverante e inventivo dos que precisam lançar a rede em outro lado (Jo 21,6). Por isso, ao invés do mar da Galileia, o evangelista se refere à região que homenageia Tibério (v. 14), lugar próprio dos gentios.

A comunidade dos que pescavam em Tiberíades somava 7 pessoas entre nomes conhecidos e desconhecidos. São eles: Simão Pedro, Tomé, Natanael, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos (v. 2). O número 7 significa a totalidade das nações. Diz respeito aos gentios, ao universalismo da mensagem de salvação, conforme a nova condição do Ressuscitado, não mais limitado ao espaço e ao tempo. A colaboração é feita entre Pedro e os demais.

A decisão de Pedro: “vou pescar” (v. 3), indica o cumprimento da missão com a ajuda dos seus companheiros:  “vamos nós também contigo” (v. 3). É ato de liderança de quem possui primazia. Nada pescam à noite inteira porque Jesus estava ausente. Todavia, quando de madrugada, Jesus aparece, de pé na praia, a realidade se transforma. Sem ser reconhecido, diz-lhes: “Jovens, acaso tendes peixe? ” (v. 5). Diante da negativa, acrescenta: “Lançai a rede à direita do barco e achareis” (v. 6). Embora Jesus não acompanhe os discípulos na pesca, esta é abundante devido à sintonia com sua Palavra. Realiza-se pelos discípulos enquanto são dóceis a sua Mensagem.  Significa que ação de Jesus agora é eclesial. Trata-se de novo tipo de presença.

Em toda a narrativa, Pedro tem um lugar destacado em ordem à missão universal. Embora não reconheça o Senhor de imediato, como o faz o discípulo amado (v. 7), é o chefe da missão. Inclusive, ele é quem subiu ao barco e arrastou para a terra a rede cheia de cento e cinquenta e três peixes grandes (v. 11), sinal de eficácia, mas também de corresponsabilidade assumida. Com Pedro à frente, a obra de Jesus vai adiante. O primado e o ministério petrinos serão confirmados a seguir por ocasião das três perguntas sobre seu amor a Jesus (v. 15-17).

A Eucaristia enquanto refeição sagrada é evocada nas brasas acesas, tendo por cima peixe e pão (v. 9), e, sobretudo, no convite do Ressuscitado: “Vinde comer! ” (v. 12). Na refeição celebrada entre irmãos, nenhum discípulo ousa perguntar: “Quem és tu? ”, pois, sabem que é o Senhor (v. 12). Jesus recorda e atualiza o gesto da ceia: “toma o pão, e o distribui entre eles” (v. 13). A Eucaristia é presença do Ressuscitado. É Ele quem se “aproxima” (v. 13), reúne, distribui. Fazendo-nos comensais, faz-nos participantes do seu convívio e intimidade na alegria de sua presença. Jesus Eucarístico é o centro da comunidade dispersa pelo mundo.

Podemos afirmar que a terceira aparição do Ressuscitado tem uma dimensão programática para a comunidade reunida pela Palavra e pela Eucaristia e para a missão. A missão depende do reconhecimento do Senhor e da docilidade a sua Palavra, indicadora de onde se deve jogar a rede (v. 6), no discernimento do Espírito, e é alimentada pela comunhão eucarística cuja refeição estabelece vínculos com o próprio Senhor e estreita os laços comunitários ou eclesiais.  

Temos um belo programa de Igreja conforme a mensagem da terceira aparição, como fruto das realidades pascais. Renovemos, pois, nosso sentido de pertença, na fidelidade à missão e na participação eucarística a gerar plena comunhão.

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