A Comemoração de todos os Fiéis Defuntos e a Solenidade de todos os Santos nos falam da existência, da sua conclusão terrena e da vida após a morte. À semelhança do grão de trigo que se morrer dará muito fruto, como observou Jesus, referindo-se a sua própria morte (Jo 12, 24), morrer não é o fim da vida. A rigor, não há finados, pois, a “vida não é tirada, mas transformada”. Não se celebra a saudade nostálgica dos que se foram, mas a esperança promissora do reencontro. Olha-se para o futuro em Deus.
Só podemos celebrar na fé -em Cristo e por Cristo, no Espírito Santo- os fiéis defuntos e os santos e santas da felicidade eterna. No Credo, fundamentado nas Escrituras, cremos no Crucificado, morto e sepultado, descido à mansão dos mortos, ressuscitado e sentado à direita de Deus e que virá a julgar os vivos e os mortos. Cremos também na ressurreição da carne e na vida eterna.
Quem vive em harmonia com Deus, com todos e com a natureza, certamente entende e repete o que escreveu São Francisco, o santo da ecologia integral: “Louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã morte corporal”. Sabe integrar a morte à vida. Saberá integrar a vida à morte: “É morrendo que se vive eternamente”. Bendiz a morte.
Pode-se até deseja-la, não como os suicidas, desesperados da vida, nem como os que clamam pelo direito à eutanásia. Os discípulos de Jesus podem deseja-la sem procurar e efetivar, em meio a perseguições, para expressarem a fidelidade até o martírio. Os místicos a querem: “meu desejo é partir e estar com Cristo” (Fl 1, 23); “preferimos deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor” (2 Cor 5,8). Santa Tereza de Ávila, a mística, suspirou pela união afetiva com o Amado: “morro de não morrer”.
Mais uma vez visitaremos os túmulos de nossos mortos para rezar, enfeitar com flores e iluminar com velas. A propósito, o Concílio Vaticano II diz: “ …a Igreja terrestre desde os primórdios da religião cristã, venerou com grande piedade a memória dos defuntos, e “porque é um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam perdoados dos seus pecados (2 Mac 12, 46), também ofereceu sufrágios em favor deles”. (Lumen Gentium, 50).
Neste ano de 2019, em toda a Diocese de Iguatu, além das Missas em sufrágio, grupos de católicos, em missão, vão auxiliar aqueles que, eventualmente, estão “tristes como os que não têm esperança” (1 Tes 4, 13) para que se sintam apoiados pela comunidade cristã. Foi elaborado um subsídio que esclarece a oração pelos mortos na tradição judaico-cristã e o simbolismo das velas, herdado também da prática judaica, porém, com sentido cristão, pois, Jesus é a Luz da vida. Quanto às orações, são sugeridos: a meditação do salmo 15(14), o Pai-nosso e a prece conclusiva. Pode-se também cantar qualquer cântico de louvor ao Senhor da vida e da morte.
Quanto à Solenidade dos Santos, são inumeráveis os intercessores, em geral, anônimos, e modelos, estimulantes de seguimento de Jesus. Já temos a Santa Dulce dos Pobres, brasileiríssima. Por ela, de caridade heroica, e por todos os demais, Deus é admirável e digno de louvor. Alegremo-nos, pois, no Senhor, na celebração litúrgica de todos os Santos e Santas.
Dizemos assim seja, conforme suas palavras. Abençoe-nos, nosso bom Pastor!
Belas palavras de nosso Pastor diocesano, Dom Edson de Castri Homem, que, de fato, nos remetem à expressão latina: “Vita mutatur, non tollitur”, do Prefácio da Missa de Requiem.
Osmar Lucena Filho
Paróquia de Piquet Carneiro