Inicia-se o novo ano litúrgico com o tempo do advento. É um dos mais bonitos e expressivos da espiritualidade litúrgica, pois nos prepara à vinda ou chegada de Jesus. Indica-nos o Natal do Menino que vai chegar. Atualiza sua presença. Predispõe para o coração para o convívio sacramental com o Senhor.
É tempo propício para celebrar o Sacramento da Reconciliação e de construir pontes ou de refaze-las em nome da Paz. Igualmente, enche-nos de expetativa: Vem, Senhor Jesus!
São Mateus irá nos acompanhar. Ao tratar do segundo advento, o evangelista explicita o retorno, valorizando a vigilância. Apresenta uma mensagem que expõe a expectativa e a vigilância (Mt 24, 37- 44). Ambas unidas, ajudam à celebração do advento, no tempo da Igreja e no tempo da nossa vida.
A vinda do Filho do Homem será semelhante aos dias de Noé (v. 37), quanto à imprecisão do dia e da hora (v. 39) e quanto à triagem dos que serão salvos (vv. 40-41). A evocação do dilúvio é bem escolhida. Jesus, diante da incerteza quanto à data do seu retorno (v. 36), reforça a importância de atitudes diferentes à dos contemporâneos de Noé. Nada perceberam. O dilúvio os surpreendeu (vv. 38-39).
Provocativa é a figura do ladrão que chega de repente, pois Jesus se identifica com ela. Assim sendo, pode advertir: “Ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (v. 44).
Quanto a Paulo escrevia para convertidos: “é tempo de despertar” (Rm 13, 11). Faz ecoar a expectativa e a vigilância. Embora aceite a proximidade do retorno, dizendo “agora a salvação está mais perto de nós” (v. 11) ou “o dia vem chegando” (v. 12), apresenta um discurso ético de maturação no tempo pessoal que não é imediato.
Sua ética é simbólica ao comparar o costume pagão dos romanos como TREVAS e o hábito dos convertidos como LUZ. Bela e empenhadora é a divisa: “ Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz” (v. 13). Para tanto, o procedimento é o da honestidade e a conduta é do equilíbrio: “nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades” (v. 14). Retidão da vida.
Alguns descrevem a “mudança de época”, através da crise ética do Ocidente e do Brasil como sendo um tempo pós-cristão, outros nomeiam-na de neopaganismo. O fato é que a crise é séria. O Papa emérito, Bento XVI, evidenciou o “relativismo ético” e deu-lhe o nome de neopaganismo. Sem nenhum pessimismo, pois, é a ocasião propícia para anunciar o Cristo que vem e que se dirige aos novos areópagos ou ao “pátio dos gentios”. Quanto ao Papa Francisco, põe a “Igreja em saída” aos excluídos e invisíveis.
Voltando ao tema, o advento e o natal, mesmo secularizados, favorecem. Cabe a nós, pôr Jesus nas celebrações e estarmos em prontidão, isto é, à disposição de um advento e um natal autênticos.
Despertemos o compromisso com Jesus, com os pobres e marginalizados, com os amigos e familiares, com os prisioneiros e solitários, com os que desejam meditar e orar conosco. Estejamos atentos aos que estão à procura. Preparemo-nos: Ele está bem perto!