A narrativa de nossa vida, em grande parte, se confunde com o tempo e o espaço no qual existimos. Podemos contar os lugares pelos quais passamos. Podemos descrever o tempo pelas vivências e as aparências. Podemos narrar nossa existência pelas pessoas e os relacionamentos significativos. Não passa o tempo porque o coração grava com seu sinete.
Difícil é colorir o tempo vivido como quem pintasse o visual refletido do próprio rosto. Surpreende. São muitas rugas a marcar o próprio passado. Marcas do irrecuperável.
Um ano a mais na nossa vida também significa o futuro imprevisível. Audácia prevê-lo. Não existem tantos futurólogos, pois abordam mais o presente ou o imaginário. Quase tudo é virtual. Inútil ler as mãos como antigamente ou nas estrelas. A clarividência virou ciência casada com a técnica e o virtual. Virou planejamento do previsível. Fruto do cálculo e da lógica matemática.
Às portas de 2020, permanece, no entanto, a magia do “desejo de ser e do esforço de existir”. Tudo parece renovado e simbolicamente antecipado. Som e suor, festa e prece, abraços e beijos, no ritual de passagem, dizem que estamos vivos. Por segundos, reina vitoriosa a esperança.
Presume-se que o tempo possa ser preenchido de opções que garantam à vida boa, justa e verdadeira. Se, ao contrário, alguém preferisse a boa vida, injusta e falseada, certamente, estaria conduzindo-se ao abismo ou levando outros consigo. Há realmente existências que se aniquilam e se desperdiçam. Vidas vazias, interrompidas, drogadas.
Precisamos retomar o sentido do desejo nas questões corriqueiras: Que significa dizer feliz ano novo? Que significa saudar um ano melhor? Que significa dizer boas entradas? Que significa fazer uma revisão de 2019 e planejar 2020? Desejar é sonhar?
Propomos aos católicos a reflexão do tempo, porém, a partir da frase de João: “Esta é a última hora” (1 Jo 2,18). Nada a ver com a hora da morte. Trata-se da hora da decisão por Cristo, comum entre os discípulos. A salvação está em jogo, no seguimento do Senhor. A hora é agora e aqui. Cruzam-se o tempo e o espaço. Decidamos, pois!
O tempo do discipulado convive com o do Anticristo. Sempre haverá desertores e inquisidores. A fé pessoal pode acabar, se não for alimentada pelo amor. A fé precisa ser sempre operosa pela caridade. A ausência da prática verdadeira pode diluir a pureza da fé. Estamos sempre ameaçados. Por isso, a vigilância persistirá no tempo da fé.
João assinala também para os que mudaram de lugar. “Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos, pois se fossem realmente dos nossos, teriam permanecido conosco” (v.19). Desvincularam-se da Comunidade Eucarística. Perderam o vínculo com a Igreja real. O problema, infelizmente, é de ubiquidade espiritual nem sempre local.
Por isso, desejamos o que almejou Jesus: que nele permaneçamos unidos e entre nós, alimentados pela seiva da graça. Vivamos a alegoria da videira também em 2020!
CRISTO ONTEM, HOJE E SEMPRE !!!