TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

No primeiro domingo da Quaresma, deixamo-nos conduzir pelo Espírito ao deserto com Jesus para vencer Satanás. O Mestre nos ensina a vencer com a fidelidade à Palavra de Deus.  O deserto é convite ao encontro com o Mistério. O próprio tempo da Quaresma pode significar passar pela provação: os 40 anos do êxodo; 40 dias do jejum do Senhor.

Quanto ao segundo domingo da Quaresma, iremos com Pedro, Tiago e João, tomados por Jesus a conduzir-nos ao alto monte. Lugar à parte. Em excelente companhia. A montanha pode ser convite à oração, à elevação da mente e dos sentimentos.

No entanto, Mateus não aponta à oração. Visa à revelação de Jesus que se transfigura. Tudo nele resplandece luz. “Sua face brilhou como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mt 17,2). Antecipa-se a visão da glória. Jesus se deixa ver no seu mistério oculto. Tira o véu.

O episódio tem um significado para Jesus. Servem-lhe de testemunhas Moisés e Elias, a Lei e os Profetas. Na declaração do Pai se encontra o sentido do seu ser: Ele é o filho muito amado e escolhido (v.5). Nele, Deus se compraz.

 O episódio tem, igualmente, um significado para os discípulos. Foram tocados (v.7). Venceram o grande susto, próprio de quem experimenta o Sublime. Logo após, eles são convidados à descida do monte, ao mergulho na realidade do dia a dia até a Paixão e Morte que O desfigurariam.  Surpreendentemente, o silêncio lhes é imposto “até que o Filho do homem ressuscite dos mortos” (v.9).  De fato, na Páscoa, a glória divina se manifestaria na face luminosa do Ressuscitado. Terão que anunciá-la, proclamá-la.

Após as experiências pascais, os primeiros concluiriam que Jesus é o Filho amado de Deus, a Palavra viva a ser ouvida e acolhida. Para os discípulos (as), Jesus se torna transfigurado e transparente para sempre. Será o tempo do testemunho e da missão.

A Transfiguração tem um sentido também para a Igreja até o retorno do Senhor em glória. Para tanto, se deu o testemunho apostólico de Pedro que alude à Transfiguração: “Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando uma voz vinda da sua Glória lhe disse: Este é meu Filho amado, em quem me comprazo. Esta voz, nós a ouvimos quando lhe foi dirigida do céu, ao estarmos com ele no monte santo” (2Pd 1,17-18).

Importante, na interpretação de Pedro, é o “nós ouvimos”. São eles, os apóstolos, as “testemunhas oculares da Sua Majestade”. Eles deram a conhecer o poder e a Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Pd 1,16). São mediadores. Portanto, a voz do Pai, reveladora do mistério do Filho, repete-se pela mediação da Igreja. Por extensão, cabe a nós, homens e mulheres da Igreja, no nosso tempo, também divulgar a revelação do mistério de Jesus, o Cristo e Senhor, com palavras e o testemunho da fé.

Não nos esqueçamos que uma das finalidades da Quaresma é o aprofundamento do mistério de Cristo a ser conhecido e divulgado. No primeiro Domingo, por exemplo, pedíamos: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo…”.  No segundo, a Transfiguração favorece tal compreensão e aceitação de Jesus, o Filho amado. Por isso, pedimos que seja “purificado do olhar de nossa fé” para que “nos alegremos com a visão da sua glória”.

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