A narrativa pascal de São Mateus dispensa as trevas: “Passado o sábado, na aurora do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro” (Mt 28,1). Passou o sábado do silêncio. Entra o domingo festivo do Senhor. Nasceu a luz da vida nova. É madrugada. Neste contexto luminoso do raiar do dia, já é a Páscoa cristã.
O sepulcro vazio diz que o Senhor Jesus não mais se encontra ali (v. 6). As mulheres jamais retornarão ao túmulo sombrio da morte para procurarem o Senhor da vida. Elas mudam seu itinerário para sempre.
O próprio anjo do Senhor, na cena, tinha o aspecto de um raio e suas vestes eram brancas como a neve (v.3). Mensageiro da vida, ele indica que tudo é transfigurado, na nova condição do Jesus Celeste. A morte sombria não tem mais poder sobre Ele.
As mulheres retornam à Galileia, lugar de encontro dos discípulos com o Senhor. Elas, porém, têm a boa notícia a dizer-lhes: “Ele ressuscitou dos mortos e vos precede na Galileia. É lá que o vereis” (v.7). Ele os aguarda.
O sentimento delas é duplo e, aparentemente, contraditório: temor e alegria. O temor expressa a revelação do Mistério que transcende a qualquer experiência sensorial, auditiva e visual, e a toda especulação ou explicação. No entanto, o véu do sentido da existência cai. A morte está derrotada e Jesus continua entre nós, na Galileia eclesial dos irmãos (as).
A alegria é, sem dúvida o dom pascal, por excelência. É a própria redenção vivida: na vitória da vida plena sobre a morte; no amor sobre o ódio; no perdão sobre a vingança; na justiça sobre a injustiça; na alegria sobre o sofrimento; na saúde sobre a doença; na verdade sobre a mentira; na graça sobre o pecado. Tudo em Jesus e com Jesus. Como Paulo insiste: vivamos com Cristo, vivamos em Cristo e vivamos para Cristo.
A vitória sobre o que oprime a humanidade, sempre sofredora e insatisfeita, doente e mortal significa que a nova humanidade do Ressuscitado traz consigo, para nós, o gérmen da nova criação. A vitória de Jesus também possibilitou a história da Igreja em meio às dificuldades e tribulações de cada período. Hoje também.
O Ressuscitado reúne os seus nas casas, famílias e comunidades, mosteiros e conventos, nos hospitais e casas de saúde, na vida pública e particular, na participação política. Ele continua a ter amigos e irmãos. São tantos! Também tem inimigos e desafetos e até perseguidores e zombadores. Porém, Ele nos precede. Quando chegamos, Ele já está. Aguarda-nos na Galileia de hoje, da nossa crise, perplexidade, incerteza, sofrimento.
Nossos santos e santas enfrentaram e venceram pandemias, guerras, perseguições, calúnias, incompreensões, doenças e, finalmente, a morte. Eles nos precederam no Reino da Glória. Com Cristo, eles nos incentivam nesta hora diferente e tão difícil.
Celebremos, pois, a Páscoa da Ressurreição, no atribulado ano de 2020 com o temor e a alegria das Santas Mulheres. O Ressuscitado nos precede no sofrimento deste mundo para a felicidade eterna. Sua Cruz é a âncora. A Virgem Maria é a estrela da esperança. Contemplemos a aurora da Páscoa! Despertemos na luz do Sol nascente! Digamos uns aos outros: SANTA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO! JESUS VIVO E ENTRE NÓS!