DUELO: MORTE E VIDA

A luta entre a vida e a morte é a experiência da existência. Tudo que vive conhece o duelo.  Hoje, porém, ele é dramático no enfrentamento da pandemia espalhada pelo mundo e no Brasil. Cresce o número de pessoas afetadas. Muitos morrem.  Tantos recuperam a saúde, aliás, em número maior. São aplaudidos porque venceram.

A luta atual pela vida envolve cientistas, pesquisadores, médicos, enfermeiros, políticos, economistas, dirigentes das nações. O duelo atinge o físico, a mente, o ânimo, o trabalho, o comércio, a indústria e a economia. Providencialmente, envolve os 50 dias da celebração pascal da liturgia católica. Sem o brilho das celebrações de outrora, festejamos o mesmo mistério de Cristo, da vitória da vida sobre a morte.

Diante da multiplicação de enterros, no falecimento de familiares, amigos, vizinhos, convivemos com a possibilidade imediata de nossa própria morte. Tal situação de precariedade na qual os mortos são estatísticas, recordamos o drama da poesia de Cazuza que viu a cara da morte e ela estava viva. Ninguém está seguro, pois não há respiradores suficientes e leitos hospitalares adequados para todos. Os próprios profissionais da saúde, exaustos, estão sendo dizimados e não há substitutos.

Que o Apóstolo Paulo nos auxilie, na compreensão e na vivência de nossa condição mortal, ao dizer-nos: “O último inimigo a ser destruído será a Morte, pois ele colocou tudo debaixo dos pés dele” (1Cor 15,26). Trata-se da esperança da vitória da nossa vida em Deus. Apesar da morte, temos futuro. É preciso contemplar além do horizonte.  

Tempos desafiadores como o atual ajudam os cristãos a permanecerem firmes na esperança da vida eterna e da ressurreição da carne. Este o conteúdo do desejo: “Que o Deus da esperança vos cumule de toda alegria e paz em vossa fé, a fim de que pela ação do Espírito Santo a vossa esperança transborde” (Rm 15,13). A Igreja é o lugar desta esperança. Entretanto, a esperança também alimenta a justiça e o amor no mundo. Por isso, quando a morte parece ser vitoriosa, do ponto de vista quantitativo, resta-nos ver o essencial, o principal, o necessário: o amor vitorioso sobre a morte, aqui e agora.

 Quem crê, vive o amor, exercita a caridade, sempre e sobretudo, em tempo de escassez, de destruição, de penúria, de conflito, de guerra e de pandemia. João nos diz de modo claro: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (1Jo 3,14). Por isso, o transbordamento da esperança pascal se dá junto com o amor desdobrado pelos irmãos e por todas as pessoas. O amor destrói as inseguranças e nos robustece.

 Os discípulos de Jesus se agigantam em obras de misericórdia e de generosidade. Estão por toda a parte, espalhando seus gestos de amor e de esperança. Vivem o equilíbrio: oração e ação. Há um certo grau de heroísmo em muitos que saem de si. Há a criatividade ou inventividade no amor solidário. Há ações de pessoas altruístas que se desdobram em favor dos doentes e dos que estão impedidos de trabalhar.

Terminada a pandemia, pois ela vai passar, teremos muito a reconhecer e a agradecer aos que lutaram conosco pela vitória da vida, especialmente aos profissionais da saúde, aos da comunicação social, pois, não esconderam os fatos; e, aos coveiros, testemunhas oculares das lágrimas, da dor e da desolação de muitos.

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