Poderíamos retomar as primeiras falas do Papa Francisco que usava para o mundo e a Igreja a expressão: “hospital de campanha”. Visava a chamar a atenção para o sofrimento invisível, ocultado, silenciado. Apesar das falhas brasileiras, literalmente já temos algum complexo de hospitais ou de alas hospitalares, montados, com certa rapidez, para vencermos a pandemia. São ações em função do cuidado e da cura. O Covid-19 mata. Porém, muitos se recuperam.
A propósito, Jesus falava de cura. Segundo Mateus, após a eleição dos Doze lhes dá a ordem de curar os doentes (Mt 9,8). Não é sugestão nem aconselhamento. Não significa, no entanto, que todos teriam o dom miraculoso de curar, mas que caberia à Igreja e, particularmente, aos apóstolos e seus sucessores, o serviço à causa da saúde e do bem-estar integral das pessoas.
Em certo sentido, acontece. Quando chega a Igreja, em terras de missão, traz com a Cruz o Evangelho, a capela da liturgia e da devoção, o pequeno hospital ou ambulatório, a escola e o cemitério. O povo brasileiro sabe disso. A Igreja se modernizou: já temos o barco do Papa Francisco que serve de hospital fluvial na região amazônica para atendimento dos ribeirinhos.
Para Mateus, Jesus inicia sua vida pública do seguinte modo: “percorria toda a Galileia, ensinando…pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo” (Mt 4,32). Enfatiza: “…lhe traziam todos os que eram acometidos por doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curava” (v.24). A pregação do Reino dos céus acontece com todas as curas feitas na terra e apontam para o futuro que há de vir, sem morte, sem luto, sem clamor e dor (cf. Ap 21,4). Curar é libertar da doença e do pecado. É proporcionar a vida boa. É romper as cadeias.
Mateus descreve a ação taumatúrgica de Jesus para relacioná-lo à ação profética da divina solidariedade que salva: “…trouxeram-lhe muitos endemoninhados e ele, com uma palavra, expulsou os espíritos e curou todos os que estavam enfermos, a fim de se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: Levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças (8,16-17; cf. Is, 53,4). Dá-se, sobretudo, quando nos assume no sacrifício pelo pecado, na Cruz, no amor e na dor.
O cuidado pelos enfermos torna-se um dever e compromisso, a decisão que nos há de premiar ou condenar: “…estive doente e me visitastes” (Mt 25,36). É bem mais que o cumprimento de etiqueta social; é solidariedade e compaixão. Para os agentes de saúde, um compromisso inerente à ética profissional; o doente é prioritário. Para cristãos, é Jesus na pessoa enferma.
A pandemia nos faz ver como precisamos de cura para outras patologias nacionais de ordem política, social, estrutural. Muitas se tornaram doenças crônicas, embora sejam curáveis. O novo coronavirus nos ensina que não basta cultivar a utopia do sonho, do desejo e até da esperança. Quem deseja e espera, se responsabiliza. A ética da responsabilidade entra, desde o uso da máscara até as demais prevenções, na atuação dos três Poderes, dos profissionais que têm a influência sobre as políticas de saúde. Entra pelas redes de comunicação social, os gestores de projetos e do dinheiro público. Entra pela Igreja, santa e pecadora e inserida. O Brasil adoece. Precisa de consenso. Requer de seus líderes o exercício de uma ética comunicativa para o novo pacto social. Chega de conflitos doentios e dissensos patológicos! Deus salve o Brasil!