CIDADE SEM FESTA

A festa mais popular da Cidade de Iguatu é o dia da Padroeira, Senhora Sant’Ana, em 26 de julho. Entretanto, neste ano da Pandemia, a Cidade se recolhe porque há muitos contaminados.

Nossos queridos enfermos não entenderiam nossa falta de solidariedade para com eles. Suas famílias também. As famílias que já estão enlutadas não compreenderiam nossa insensibilidade.

Somos chamados enquanto católicos a modificar o sentido da celebração da Padroeira sem festa, em 2020. Estaremos, no entanto, reunidos em casa e em oração. Já aprendemos a acompanhar as celebrações, de modo virtual, graças em grande parte aos jovens da PASCOM e aos párocos que se adaptaram ao novo tempo. Podemos dizer como cantávamos: Nós somos a família reunida.

A cidade pode ser comparada a uma grande família. É um conjunto de famílias que se interagem e se relacionam por vários interesses: políticos, financeiros, afetivos, lúdicos, religiosos, etc.

Ela é feita de muitos laços de convergência e de colaboração, não sempre considerados, pois, somos tendenciosos quando a chamamos de violenta e injusta ou mesmo quando reconhecemos as raízes de seus conflitos e desigualdades.

Sempre há razões por que amamos onde nascemos, vivemos e estão sepultados nossos mortos. É, acima de tudo, o lugar onde nos sentimos bem devido ao lar, à família, ao trabalho, à convivência.

Este tempo de provação pode ser rico de reflexão pessoal e social para pensarmos a importância de Iguatu no conjunto de todas as cidades do Ceará. Sem ela, o Estado do Ceará seria menos rico de tudo que só a cultura e a economia de nosso povo e de sua gente podem oferecer.

Pensemos, nós católicos, em nossa cidade enquanto sede de Diocese com a presença do Bispo e   do Presbitério, da Vida Consagrada e do conjunto do Povo de batizados com suas várias expressões que a constituem. Inclusive você, irmão e irmã em Cristo.

Aqui, a Cruz foi plantada, desde os tempos dos jesuítas na Missão da Telha. Aqueles primeiros missionários junto aos índios, habitantes originários, não poderiam imaginar que se ergueria uma Igreja Particular ou Diocesana, desmembrada da Arquidiocese de Fortaleza.

Hoje, a Sé eclesial aponta para a convergência, a comunhão na unidade e na diversidade. A Cruz aponta a verticalidade como direção para o alto, fincada na terra do compromisso. A Cruz sinaliza tantos braços na horizontalidade a acolher o passado no presente em construção do futuro na história de pessoas, inclusive as que já se foram, com alegrias e dores, sucessos e decepções, acertos e erros. Muito trabalho, muita dedicação, muitos sonhos. Muita história.

Somos chamados a viver as recomendações de São Paulo neste tempo de provação: “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rom 12,15). Alegria e tristeza são duas dimensões que se tocam na compaixão e na solidariedade. Fazem parte da mesma Cruz redentora.

Os que hoje vivem em Iguatu são chamados a se alegrar com os que se recuperaram, os que saíram dos leitos que a pandemia os colocou, à semelhança daqueles profissionais de saúde que aplaudiram os “vitoriosos” em fila.  Também se alegravam porque participaram do empenho em prol da vida. Somos convocados, igualmente, a chorarmos com os que choram seus entes queridos e não puderam vela-los porque tudo precisa ser feito às pressas, respeitando as normas sanitárias.

Na qualidade de Bispo Diocesano de Iguatu, título que muito me honra e onera, sugiro o que já disse outras vezes: que o dia de Sant’Ana seja uma ocasião de pensarmos e rezarmos a Cidade que construímos. Ela é o retrato dos moradores. Nela se vive a cidadania. Ou não. Abençoo a Cidade e seus habitantes, em nome do Pai +do Filho +e do Espírito Santo.      Que Senhora Sant´Ana, nossa fiel Padroeira, interceda por nós junto a sua filha, Maria, e ao seu Divino Neto, Jesus!

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