A Associação Brasileira de Psiquiatria, o Conselho Federal de Medicina e o Centro de Valorização da Vida (CVV) apoiam e incentivam a Campanha Mundial do “Setembro Amarelo” que visa a falar sobre o tema do suicídio, por entende-lo como caso de saúde pública. Rompe-se com o tabu do silêncio em torno da temática.
De acordo com o CVV, foram cerca de 13.467 casos de suicídio, no Brasil, em 2019. A taxa é: de cada 100 mil habitantes, aumentou 7% em 6 anos. É bastante, mesmo considerando nossa extensão geográfica e densidade demográfica. Entre os jovens é a maior causa de morte, após os acidentes de carro e de moto. A maioria se enforca, embora haja envenenamento e uso de armas de fogo. Ninguém está imune: adultos, idosos, pobres, ricos, ateus, crentes e padres.
Tende-se a analisar a problemática do suicida pela perspectiva psicológica ou psiquiátrica do transtorno mental (ou de personalidade), não descoberto ou insuficientemente tratado. Depressão? Esquizofrenia? Ansiedade? Certamente. Ou, fruto de dependência química pelo uso de drogas em muitos casos. Entende-se por que o suicídio se tornou caso de saúde pública.
O novo Catecismo da Igreja Católica, após uma condenação severa do suicídio, diz: “Distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provação, do sofrimento ou da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida”. Trata-se da questão da liberdade no ato que, talvez, não interesse ao psicólogo e ao psiquiatra na sua função profissional. Porém, integra a compreensão do sacerdote católico quando conversa com os familiares do suicida, preocupados com sua salvação eterna, em geral, também acometidos pelo drama do sentimento de culpa por não terem percebido ou interpretado os sinais a tempo. Vale para o bispo e o presbitério quando se trata de suicídio de padre. Por que tanta desatenção?
Diante destas aflições, o Catecismo favorece à atitude pastoral da confiança, quando diz: “Não se deve desesperar da salvação das pessoas que se mataram. Deus pode, por caminhos que só ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida”. Parece pouco diante da perda, mas para quem tem fé e sentimento de culpa, alimenta a virtude da esperança na misericórdia invencível de Deus.
Romper o silêncio sobre a temática do suicídio é favorecer a vida. Como? Para que? Para tratar dos transtornos mentais, discernir e interpretar seus sinais. Para ensinar a discar o número 188 do Centro de Valorização da Vida (CVV). Uma pessoa atenderá com empatia. Irá encaminhá-lo (a) ao profissional de saúde. Importante: guardará sigilo da conversa.
No distante 1975, o Cardeal Eugênio Sales fundara a Pastoral do Anônimo, no Rio de Janeiro, para atender pessoas solitárias naquele grande centro urbano. Com assessoria técnica, a Pastoral atendia por telefone, durante a madrugada, gente sofrida, solitária. O anonimato era mantido. Hoje teríamos condições de fazer mais e melhor, inclusive nos pequenos distritos, onde crescem atos suicidas, até no Natal, pois, a depressão torna insuportável a solidão na “noite feliz”. O suicida traz a aspiração de destruir seu sofrimento. Escolhe a morte como libertação da dor.
Jesus assumiu também o sofrimento da solidão extrema, quando disse: “Minha alma está triste até a morte” (Mt 26,38). Adveio-lhe um anjo consolador (Lc 22,43). Tal cena dramática favoreça nosso setembro amarelo: do tabu do silêncio à fala e à terapia de quem precisa da luta de corpo-a-corpo com um anjo solidário. Feliz de quem o encontra e se deixa vencer. Viverá.