Advento é um dos mais belos tempos da liturgia católica. Tempo inaugural do ano litúrgico. Tempo de vigilância, de expectativa, de esperança. Tempo de preparação próxima e remota. Tempo de promessa, de espera, de realização.
Nas primeiras semanas, nós retomamos o tema da volta do Senhor na conclusão da história. Progressivamente, preparamo-nos para o Natal do Senhor, trazendo à mente e ao coração, as figuras de Isaias, de João Batista e de Maria, entre outras personalidades bíblicas da preparação, da espera e da realização. É tempo do cumprimento da profecia. Tempo da consolação de Israel. Enfim, é tempo da graça, graciosa e gratuita, em prol da renovação.
Para a Pastoral, é tempo criativo. Mesmo tendo a liturgia e as devoções com restrições presenciais, devido à pandemia, a PASCOM ajuda-nos a vivenciá-las. Também é tempo antecipado do Natal dos pobres e dos presos. Tempo de solidariedade e de partilha.
Inicia-se o Ano Litúrgico com a leitura dominical continuada do Evangelho de Marcos. Será o evangelista, companheiro na Liturgia da Palavra, com algumas exceções, para nosso conhecimento do Senhor Jesus com os títulos de Filho do Homem, Filho de Deus, Cristo ou Messias (o mesmo que Ungido), Filho de Davi, Rei, Mestre, Santo de Deus.
No primeiro domingo do Advento, é proclamada a conclusão do discurso escatológico de Jesus, segundo Marcos (13,33-37). Este discurso é longo, se considerarmos todo o capítulo 13 que aborda dois temas: a destruição de Jerusalém, acontecida no ano 70, e a futura manifestação gloriosa do Filho do Homem (13,1-37). A conclusão, porém, é curta.
É preciso deixar-nos impactar pela advertência de Jesus: “Cuidado! Ficai atentos porque não sabeis quando chegará o momento” (v.33). A imprevisibilidade garante o exercício da vigilância. Se não nos deixarmos impactar pela Palavra de Jesus, a vigilância não tocará o cerne da mensagem no hoje da nossa vida. Ao contrário, passará como algo repetido e conhecido, sem consequências práticas. É preciso, pois, estarmos atentos à semelhança dos primeiros cristãos que aguardavam o retorno do Senhor e até pediam sua volta: Marana tha (Ap 22,20).
Vez por outra, no decorrer da história da Igreja, talvez por excesso de atenção, criam-se falsas tensões escatológicas. Aparecem grupos de pessoas que, exaltadas, garantem com precisão o retorno do Senhor ou sua proximidade, por uma leitura fundamentalista de interpretação ingênua ou interessada, baseadas também em catástrofes sempre existentes ou em conflitos, revoluções e guerras que se sucedem no drama humano.
Esquecem a advertência que fundamenta a serena vigilância: “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer” (v.35). A imagem de permanecer acordado, desperto, reforça a preparação contínua (v.36).
Quanto à vigilância, ela é ativa e corresponsável. Corresponde ao tempo da Igreja que há de ser rico de atividades. É para a ação que nos aponta Jesus ao dizer-nos: “É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo sua tarefa a cada um. E mandou o porteiro ficar vigiando” (v.34).
Por tudo isto, o tempo do advento é também de retomada das ações que apressariam a vinda do Filho do Homem até porque ainda há tanto que fazer para o anúncio do Evangelho e seu acontecimento no mundo e nos corações.
Fonte de Imagem: https://i2.wp.com/portalkairos.org/wp-content/uploads/2020/11/advento-2020-02.png?ssl=1