O Tempo Comum se inicia com o testemunho de João Batista, no contexto do Batismo do Senhor. Tudo é inaugural, inclusive o convite para olhar Jesus, o Cordeiro de Deus (Jo 1,36). Para os dois discípulos de João, trata-se de novidade e de mudança de rumo. Também para João Batista: ele deixa sua atividade de precursor, pois chegou o Cordeiro que realizará a Páscoa definitiva, a partir de si.
Mudando de mestre, os dois discípulos agora seguem a Jesus. Indica algo mais que um simples acompanhamento ou estar junto. Trata-se de realizar aquilo que é o sentido maior do encontro com Jesus: tornar-se seu discípulo ou seguidor. Só por isso, são narradas as demais atitudes e falas: “voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: o que estais procurando? Eles disseram: Rabi, onde moras? Jesus respondeu: vinde ver” (v.38-39).
Os verbos de ação escolhidos são fundamentais para descrever atitudes: o início e o aprofundamento do discipulado ou do seguimento: ir e ver. A narrativa acentua, precisamente, que os primeiros foram e viram (v.39). Eis o núcleo da experiência original ou originária do cristianismo, fonte de sua renovação em qualquer tempo. Serve para ilustrar a vocação cristã e toda missão, sobretudo, a apostólica.
André é motivado por Simão que foi encontrar seu irmão e dizer-lhe: “Encontramos o Messias” (v.1). Simão conduziu André a Jesus. Trata-se da experiência originária a partir da mediação de um outro, do convite e do estímulo de quem já se encontrou com Jesus. Não se trata de proselitismo ou convencimento, mas de atração –como insistiu Bento XVI, entre outros. Significa a transmissão de uma experiência pessoal, intensa e enriquecedora, que remete e projeta para Jesus.
Simão é apresentado em face ao irmão André como alguém que, talvez possuísse uma liderança natural, espontânea. Certamente, em cima desta qualidade é que Jesus “olhou bem para ele” (v.42). Ao “ir e ver” de Simão corresponde a ser visto por Jesus. Aliás, quantas vezes Pedro teria que suportar o peso e a leveza deste olhar! O olhar do Mestre já continha em si o chamado.
Neste momento inaugural, o Mestre vê em Simão o futuro de sua obra: “Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedro v.42). O chamado e a missão petrina de Simão, na autoridade e no serviço, se tornará sua condição de vida, após a ausência física de Jesus. Todos os evangelistas o reconhecem e comprovam, acentuando a primazia ou o primado de Pedro.
Nos inícios está presente o que se compreenderá, mais tarde, como sendo a intenção de Jesus fundar a Igreja sobre Pedro-Cefas e os demais apóstolos, ainda chamados de discípulos e seguidores. No meio e no fim da narrativa de João, a figura de Pedro e sua missão, bem como a dos discípulos, ficará mais completa.
O desafio de sempre, também hoje, é o de transmitir experiências vividas e sólidas de morar com o Senhor para vê-lo na fé e no amor. A intimidade de conhecimento afetuoso ou amoroso constitui a base da espiritualidade ou da mística, sem as quais não se aprofunda o mistério da nossa inserção em Cristo desde o batismo. Nestas experiências residem a novidade que impactou os primeiros discípulos, os convertidos de todos os tempos, a ventura dos santos e santas.
A Pastoral que não favorece ao encontro com Jesus –ao ir a Ele para vê-lo e nele permanecer- não atingiu seu objetivo maior que Paulo chama de estar em Cristo. Também a Liturgia e a devoção, o serviço na caridade e o amor aos pobres com o empenho pela justiça, são expressões dessa permanência em Cristo, sempre dinâmica e expansiva. Também o exame de consciência visa ao nosso estar com Ele, tudo fazer por Ele e nele. Visa menos ao pecado cometido e muito mais às ações que expressam nossa “Vida no Espírito”, segundo o dizer de Paulo.
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