Convém recordar: “A justa ordem da sociedade e do Estado que não se regesse segundo a justiça reduzir-se-ia a um grande bando de ladrões” (Bento XVI. In: Deus Caritas est, 28).
A afirmação extraída do ensinamento político de Santo Agostinho é de grande atualidade quando se avolumam notícias de corrupção em nosso amado Brasil. Quer dizer que a política desligada da ética de seus executores é uma anomalia intrínseca. Quem assim procede age perfidamente contra seu povo.
O Papa Francisco convidou recentemente os jovens brasileiros a construírem uma sociedade livre da corrupção. “Não tenham medo de lutar contra a corrupção e não se deixem seduzir por ela! ” O convite se deu quando eles encerraram o Projeto Rota 300, reunidos em Aparecida, comemorando os 300 anos do encontro da imagem da Padroeira do Brasil, no mês de julho passado.
O Papa recordava um fato pouco sublinhado a respeito dos três pescadores: “foram surpreendidos com uma imagem partida de Nossa Senhora, coberta de lama”. Realçamos a lama. Este simples detalhe, não desapercebido pelo Papa, nos faz contemplar o paradoxo da pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, enlameada pelo barro do rio, a toda santa e toda bela – a Imaculada- em quem não se encontra nenhum vestígio da mancha do pecado da origem. A lama da imagem é apenas sujeira. A própria água do rio a lavou pelas mãos dos pescadores.
Quanto à lama do nosso País, trata-se da falta de ética de seus homens e mulheres aos quais lhes foram conferidos o poder de decisão e da representatividade -e pasmem- de impunidade. A limpeza precisará de muitas mãos. Talvez de muito tempo. Por isso, parece difícil lavar o rio de lama da corrupção na nossa política. No entanto, é possível e há de ser feita. Ah! Se tivessem a humildade de confessar os pecados e pedirem a Deus perdão e misericórdia… Nem sequer, desculpam-se diante do povo.
A possibilidade da purificação da política se dá pela própria necessidade. Períodos de crise são tempo de enorme criatividade e de substancial transformação. Tornam-se períodos de responsabilização, de expectativa e de esperança. Por isto, urge confiar, sobretudo, nas novas gerações. Tais jovens existem: acreditam no Brasil, estudam ou trabalham, e são esperançosos e generosos em contribuírem com seu sangue novo para mudanças significativas. Trazem consigo o futuro que começa, ao contrário das velhas raposas, cheias de perfídia e de cinismo. Por isso, o Papa disse a eles: “Vocês são esperança do Brasil e do mundo”.
A falta de renovação nos quadros humanos da política partidária, a ausência de ousadia criativa na economia e de distribuição da renda, o receio de mudanças qualitativas nos três poderes, o discurso conservador, repetido e ultrapassado, a apropriação indevida dos recursos públicos e a má gestão atrapalham, mas não conseguirão represar o novo que chegará e avançará em prol de um País mais justo.
Papa Francisco estimula o jovem católico a se integrar em comunidades e comprometerem-se na construção de uma nova sociedade. Curioso: este Papa tem um discurso renovador e realiza práticas ousadas e criativas. Quer católicos comprometidos.
Convida os jovens para que sejam o que devem ser: contemporâneos, ou seja, que permeiem com a força do Evangelho os ambientes sociais, políticos, econômicos e universitários. Incentiva que sejam protagonistas de uma cultura de aliança e gerem novos paradigmas que venham a pautar o Brasil. Repetidas vezes, adjetiva suas propostas com o novo. É um chamado à inovação.
Quanto à purificação da política, retomemos o texto de Bento XV: “política e fé tocam-se”. (…) A fé “serve de força purificadora para a própria razão”. Referia-se à razão prática, isto é, à ética na política. A fé contribui “para fazer com que aquilo que é justo possa, aqui e agora, ser reconhecido e, depois, também realizado”. Portanto, que jovens e adultos de fé coerente contribuam com o testemunho pessoal a fim de que tenhamos a política digna deste nome. O povo brasileiro necessita e agradece.