Padre José Ribeiro
Pároco de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Mineirolândia
Vivemos em uma sociedade, que enaltece o barulho, a publicidade, o marketing, os holofotes, o grito, os ruídos, etc. Ademais, ninguém medita ninguém silencia, ninguém comtempla e se o fazem, são poucos, ninguém tem tempo. A sociedade pós-moderna, como dizem os estudiosos, preconiza mais o ter que o ser, mais o falar que silenciar, mais o exibicionismo exacerbado e exterior, que a modéstia e a humildade interior, e isto se manifesta de uma maneira avassaladora, uma ditadura do barulho sobre o silêncio.
Há de se considerar também o barulho interior que há dentro de nós, é o barulho das nossas emoções, dos nossos medos, das nossas preocupações, que por vezes gritam dentro de nós, tirando nossa paz, que só serão superados pela força da palavra, da meditação e oração.
É a Sociedade da pós-modernidade, que extrai de nós, aquilo que em nós é mais sagrado, por isso queremos preencher o vazio, com ocupações externas, alaridos e barulhos, que ao invés de preencher esvazia mais. Estamos ocupados, no celular, no rádio, na tv, no smartphone, no cinema, na internet, que já não temos tempo para ouvir a nós mesmos, o outro e muito menos a Deus. Esta realidade penetrou o espaço e o ambiente de nossas igrejas e liturgias.
Precisamos redescobri o valor do sagrado silêncio como parte integrante da ação litúrgica, como nos diz a Instrução Geral do Missal Romano “A Liturgia deve ser celebrada de tal modo que favoreça a meditação; deve- se, evitar qualquer pressa que impeça o recolhimento, a meditação. Integram também breves momentos de silêncio. Convém que tais momentos de silêncio sejam observados, antes de iniciar a missa, e demais momentos”.
Como se vê, no texto acima antes de qualquer ação litúrgica, devemos nos preparar em silêncio, para refletir, daí a importância de chegar cedo na igreja, do cântico ser ensaiado antes da celebração com a assembleia, do silêncio na sacristia, o silêncio ao receber a sagrada comunhão, sem agitação, sem stress e sem pressa. Lembremos do que fala o Cardeal Robert Sarah em seu livro intitulado “Força do Silêncio” “Somente fala bem de Deus quem, escuta a Deus deixe Deus falar”… (A Força do Silêncio pág 285… edições Fons Sapientiae).
No plano da salvação o silêncio ocupa um lugar privilegiado a saber: no nascimento de Jesus. Ele veio ao mundo designado pelo Pai, numa noite silenciosa, conforme a Antífona de entrada do sexto dia na oitava de Natal:
Enquanto um profundo silêncio envolvia o universoe a noite ia no meio do seu curso, desceu do céu, ó Deus, de seu trono reala vossa Palavra onipotente.
Vejamos primeiramente, que isto acontece “enquanto o mundo silencia”. Como a sugerir que a Palavra só pode ser ouvida, se antes houver silêncio, e o texto acima é enfático ao dizer que a Palavra aparece enquanto “a noite ia ao meio do seu curso” para dizer que palavra vem para iluminar as trevas da noite.
Faz-se, necessário mais do que nunca o silêncio interior em nossas igrejas e paróquias para ouvir a Deus e sua Palavra.
Façamos de nossas celebrações espaços celebrativos, animados e ativos, porém revestido do sagrado silêncio, da mistagogia, com menos excessos de palavras que, muitas vezes imaginamos que estávamos evangelizando, quando na realidade estávamos cansando o povo.
Os ministros ordenados, os agentes não são animadores de plateia, para induzir o povo a todo instante, aos aplausos, fazendo da liturgia, mas show, que não converte ninguém, do que mesmo celebração do mistério pascal de Cristo.
É preciso superação dessa visão que a melhor liturgia é aquela onde o povo vibra, onde povo aplaude, às vezes confiamos nesses enfeites e fantasias, porém, eles são passageiros e não convertem ninguém, esses ritmos podem até empolgar o povo instantaneamente, mas não leva a um encontro pessoal com Jesus Cristo.
Deixemos Deus falar, a Igreja recomenda vivamente que o silêncio dever ser observado: antes da missa, no ato penitencial, antes da Oração Coleta, na consagração, na liturgia da Palavra, se possível, uma pausa na homília, após a Comunhão.
Finalmente, busquemos a Deus no Silêncio, diga se de passagem os monges do deserto, “Deus está no Silêncio”. (Fontes da Força Interior; pág 125; Anselm Grun; 2ª edição vozes).
Diz Santo Inácio de Antioquia sobre a importância do silêncio no nosso cotidiano: “É melhor permanecer em silêncio e ser, do que falar e não ser”.
Silencie e tudo dará certo…
Bem reflexivo
Padre José Ribeiro, muito obrigado por tão sábias palavras. Servem de consolação em meio a uma desvalorização do sagrado em que vivemos na nossa igreja.