EUCARISTIA MEMORIAL DA PÁSCOA DE CRISTO
“… isto é o meu corpo que é dado por vós.
Fazei isto em minha memória” Lc 22,19.
A Páscoa de Cristo é um acontecimento no passado, mas que não ficou aí pois é atualizado em cada celebração eucarística; “Cristo morreu uma vez por todas” (Rm 6,10), isso significa que os frutos de sua morte são perpétuos, ou seja, se tornam contemporâneos a nós hoje graças à ação do Espírito Santo na liturgia da Eucaristia. O Sacrifício de Cristo é único, foi uma só vez, mas de uma vez por todas, ou seja, Ele não é sacrificado novamente na Missa.
É o mesmo Jesus histórico de dois mil anos atrás que está na Eucaristia, mas atenção é o mesmo porque não é outro Jesus que se entrega na Eucaristia, mas comungamos o corpo glorioso de Jesus, não o seu corpo físico histórico, mas o corpo de Cristo ressuscitado. De fato, não podemos conceber o corpo de Cristo Eucarístico com uma visão materialista e física; é real, está contido sacramentalmente e substancialmente o corpo e sangue, alma e divindade de Jesus. É o mesmo Senhor que se entregou na cruz o que agora se nos dá na Eucaristia a partir de sua vida gloriosa.
A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, entendamos memorial não como uma mera lembrança de algo acontecido no passado, mas no sentido bíblico em que se proclama as maravilhas de Deus, se rememora o acontecido e este se torna de certo modo presente e atual. Nesse tocante afirma a Constituição do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium: “Sempre que no altar é celebrado o sacrifício da cruz, no qual Cristo, nossa páscoa, foi imolado, atua-se a obra da nossa redenção” nº 3. Portanto podemos compreender assim a Eucaristia enquanto memorial da Páscoa de Cristo: é celebração hoje, que torna presente a eficácia do acontecido no passado e nos remete para as realidades escatológicas; dito de outro modo, na eucaristia o passado torna-se presente e nos leva a participar da realidade futura, das riquezas celestiais.
Até aqui já dissemos algumas vezes que o Sacrifício de Cristo é um acontecimento no passado, contudo queremos ressaltar que não pertence ao passado, mas é um sacrifício eterno, perfeito e irrepetível, isso significa que Cristo ressuscitado está e estará ao mesmo tempo imolado e glorificado junto do Pai por todo o sempre. Isso é atestado pelos evangelhos ao narrarem que o Cristo ressuscitado está chagado, ou seja, as chagas de Jesus não sararam e não se fecharão jamais, suas chagas agora são gloriosas, o Cristo vivo e glorioso continuará eternamente como vítima pascal. Assim o sacrifício de Cristo não está congelado no passado, mas pela ação do Espírito Santo é eternamente novo.
Outro esclarecimento que se faz necessário fazer é que ao dizer que o sacrifício de Cristo é eterno não queremos afirmar que Cristo continua sofrendo o que sofreu na cruz ou que continua derramando sangue na cruz. O Cristo na Eucaristia não está em estado cruento (em que há derramamento de sangue), doloroso, tal como se encontrava no Calvário; o Cristo Eucarístico é glorioso, sua humanidade que foi sacrificada se encontra agora gloriosa no céu, e no sacrifício da santa Missa desce até nós e se nos dá de modo incruento, ou seja, sem derramamento de sangue, sem sofrimento. Quanto a isso diz o Catecismo da Igreja Católica: “O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício, é uma só e mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer difere” nº 1367.
O sacrifício incruento, realizado na celebração Eucarística, derrama sobre os participantes os frutos do sacrifício cruento da cruz, ou seja, torna presente os frutos da redenção realizada por Cristo no alto da cruz. Cristo na Eucaristia continua em nosso meio como aquele que nos amou e se entregou por nós (cf Gl 2,20), por isso devemos continuar obedecendo o seu mandato de fazer isso em sua memória (cf Lc 22,19), pois quanto mais participamos pela eucaristia da vida de Cristo mais progredimos em sua amizade e em seu amor.
Finalizemos este artigo com as palavras da Constituição conciliar sobre a liturgia Sacrosanctum Concilium nº 47: “O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu corpo e do seu sangue para perpetuar no decorrer dos séculos, até ele voltar, o sacrifício da cruz, e para confiar assim à sua Igreja, o memorial da sua morte e ressurreição”.
Que a nossa participação na Eucaristia nos leve sempre a formar o corpo místico de Cristo que é a Igreja.
Pe Márcio Basílio Soares
Pároco da paróquia Nossa Senhora da Glória
Diocese de Iguatu
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Perguntas para reflexão:
1) O que é atualizado na celebração Eucarística?
2) Qual a diferença entre o sacrifício da cruz e o sacrifício da Missa?
3) O que a Eucaristia representa em sua vida?
4) Quais os frutos você percebe ter recebido pela participação na Eucaristia?
5) Ler, refletir e partilhar Jo 6, 35-58.