No dia 2 de junho próximo, véspera da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, os sacerdotes da Diocese de Iguatu com seu bispo, farão uma manhã de espiritualidade, na Capela do Santíssimo da Sé Catedral.
Rezaremos e meditaremos juntos pela nossa santificação e em prol das pessoas confiadas ao nosso ministério pastoral. Ao Coração de Jesus nossos corações com seus projetos e desejos!
Aliás, o coração se presta sempre à poética: ver, falar, ouvir, tocar com. Trata-se de explosão de sentidos convergentes ou conflitantes, complementares ou díspares. Impõe-se como metáfora viva da subjetividade refletida ou da interiorização do si mesmo. Vasto simbolismo quanto ao amor que representa; o ódio também. Expressa outros contrários: fidelidade e traição, liberdade e prisão, ternura e frieza.
Dissera bem Pascal: “O coração tem razões que a razão desconhece”. Reconheceu, assim, o limite da razão mesmo objetiva sem, porém, desvalorizá-la, completando-a com a intuição subjetiva. Conjuga o “espírito de geometria” com o “espírito de fineza”. Enfim, filosofa com o coração. Coisa rara.
No trato humano, inclusive o pastoral, agir só de acordo com a fria razão não dá muito certo. Há fatores que ludibriam ou escampam ao cálculo e ao raciocínio lógico e a todo planejamento. Por isso, embora mais oneroso, o caminho que inclui o coração, sem excluir a inteligência, alcança resultados surpreendentes, ainda que ao prazo mais longo. É percorrido com a compaixão, a simpatia, a empatia, a benevolência, a audácia, a tolerância e dose de bom humor. Na prática, é a colherzinha de mel de São Francisco de Sales contra o barril de vinagre. Superada a rigidez do seu temperamento, este santo bispo conquistou a mansidão heroica, pela paixão do amor sem medida.
Igualmente nos serve de incentivo a cordialidade de Madre Madalena Sofia. Leal ao Coração de Jesus, ela acolheu por 23 anos, Júlia “pobre, solitária, de um temperamento difícil e caprichoso, mentirosa, traiçoeira, desprezível, exaltada até às raias do delírio”. “Adotou-a como filha, escreveu-lhe mais de duzentas cartas e sofreu muito, por sua causa” inclusive calúnias. “Veio a falecer, na paz do Senhor, sete anos depois da Santa”. (cf. Monahan: Santa Madalena Sofia Barat). Viveu o hino à caridade, apaixonadamente: “O amor é paciente (1 Cor 13, 4), não se irrita, não guarda rancor” (v. 5).
Teria o Coração de Jesus assumido também à inquietude do nosso, sempre insatisfeito? A pergunta se impõe, quando a espiritualidade nos quer contemplativos, tanto da sacralidade quanto da humanidade do Senhor. No entanto, quanta diferença observada, pois “Deus é maior que o nosso coração” (1 Jo 3, 20). Nós é que somos convidados a conformar-nos ao Senhor com o auxílio da graça. Assim sendo, vale o que diz Paulo: “Tende o mesmo sentimento de Cristo Jesus” ( Fl 2, 5).
O Mestre proclama seu convite ao discipulado: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso” (Mt 11, 29). A escola é a do coração abrasado, pronto para a conquista do mundo pelo fogo aceso (Lc 12, 49). Por isso, nós repetimos com aqueles que nos precederam na imitação de Jesus: “Fazei nosso coração semelhante ao Vosso”.
Na aparência, o pedido soa pretencioso demais. Mas, não é arrogante. É a oração dos simples, que reconhecem o abismo do próprio coração, cheio de imperfeições. É o louvor agradecido porque todo bem é dom gratuito do Pai (Tg 1,17). A súplica segue, então, o desejo de renovação: “Eu lhes darei um coração capaz de conhecer-me e de saber que sou Eu o Senhor” (Jr 24, 7). Atualiza a profecia, qual empenho pessoal e eclesial: “Repeli para longe de vós todas as vossas culpas, para criardes em vós um coração novo” (Ez 18,31). Corresponde à colaboração livre e sincera com a obra divina: “tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36, 25-26).
A Solenidade do Sagrado Coração comporta esses e outros bons estímulos para sermos pessoas melhores no nosso relacionamento social: mais amabilidade e mais cordialidade. Sem truculência.