Além das missões, outubro é considerado mês do rosário. Por volta de 1328, atribuiu-se a São Domingos a salvação do mundo cristão à sua pregação sobre o rosário. A ameaça era caracterizada pela heresia dos albigenses, pelas invasões dos mulçumanos e pela ignorância dos mistérios da fé e das virtudes cristãs. Graves ameaças.
Os Frades Pregadores uniram a cristandade por um método simples e acessível: recitar e meditar o rosário. Disso decorre a imagem de Nossa Senhora, sentada, entregando o rosário a São Domingos de Gusmão e a Santa Catarina de Sena, ajoelhados. A imagem, pintura ou escultura, traduz a ligação do rosário com Maria e de ambos com a Ordem dos Pregadores, conhecidos como dominicanos (as), em alusão ao nome do santo fundador.
A festa do Santíssimo Rosário de Nossa Senhora deriva da comemoração de Santa Maria da Vitória, instituída por São Pio V, um papa da Ordem Dominicana. Foi em agradecimento pela vitória dos cristãos contra a frota turca, em Lepanto, no dia 7 de outubro de 1571, atribuída à recitação do rosário. No entanto, a partir de 1960, no clima do Vaticano II, a festa não é mais dirigida ao santo Rosário enquanto objeto ou arma contra os inimigos, mas visa a honrar Nossa Senhora que nos oferece o rosário como meio de oração e de meditação, reafirmado nas aparições em Lourdes e, sobretudo, em Fátima, quando disse: “Sou a Senhora do Rosário”, em 13 de outubro de 1917.
Os papas sempre recomendaram o rosário como expressão de devoção e de afeto para com a mãe de Jesus e em momentos difíceis para a Igreja e o mundo, especialmente, quando a paz era ameaçada. São João Paulo II que, certa vez disse que o rosário era sua oração preferida, propôs para toda a Igreja contemplar Jesus, através de Maria, mediante os mistérios. Deste modo, deu nova dimensão a este método de oração, tão caro aos católicos. Clareou seu sentido cristocêntrico unido à dimensão mariana: Maria nos leva a Jesus e o Filho nos conduz à Mãe. Acrescentou-lhe os mistérios luminosos da vida pública do Senhor, desde seu batismo no Jordão à instituição da eucaristia. Completou, assim, o sentido do rosário como síntese do Evangelho.
No Brasil escravocrata – colônia e império – as irmandades e as igrejas com o título de Nossa Senhora do Rosário sempre foram o lugar de encontro e de aceitação dos negros, escravos ou alforriados. Espaço mínimo, mas possível, de convivência social, propiciado pela Igreja Católica através das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário e dos Homens Pretos. Isto se explica por que o rosário é o resumo do Evangelho ao alcance de todos: os simples e iletrados.
Não tendo acesso pessoal à leitura da Bíblia e ao livro de orações, os analfabetos tudo aprendiam de cor, por repetição. Exercitavam a memória auditiva e visual. Ao contrário, o rosário, hoje, pode e deve ser meditado com a leitura dos textos bíblicos correspondentes. Decorre dos textos e a eles retorna. Neste sentido, resume o Evangelho e ensina a vive-lo. De fato, podemos tirar lições do Pai-nosso e da Ave Maria e de cada mistério. Podemos “imitar o que contêm e obter o que prometem”.
Como fruto deste mês dedicado à Senhora do Rosário, ensinemos às crianças e aos jovens a meditação dos mistérios como nos ensinaram. Entreguemos em suas mãos, mentes e corações, o rosário com a bíblia e o catecismo. Cultivemos o substrato cultural da nossa devoção católica como herança a ser valorizada pela transmissão e atualização. Retomemos o hábito do rosário em família e em situações especiais ou tristes como velórios e enterros quando se trata de funeral católico. O rosário é sempre bem-vindo.