Outubro registra dois eventos de grande significado para Igreja Católica no Brasil. Primeiro, são os 300 anos da descoberta, nas águas do rio Paraíba, em São Paulo, da pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, chamada Aparecida, cuja solenidade é no dia 12 do mês em curso.
Domingos Garcia, João Alves, Felipe Pedroso foram pescar para o banquete a ser oferecido a Dom Pedro de Almeida e Portugal, Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais. Passaria pela Vila de Guaratinguetá, rumo à Vila Rica, hoje Ouro Preto.
Sem nada terem pescado, João Alves percebeu que havia apanhado alguma coisa. Tratava-se do corpo sem cabeça de pequena imagem de barro cozido. Lançando as redes mais abaixo, o próprio João Alves recolhe a cabeça da imagem, identificada como sendo de Nossa Senhora da Conceição, devido à lua debaixo dos pés. A partir de então, a pesca foi abundante.
A imagem da Aparecida ficou na casa de Felipe Pedroso cuja família construiu-lhe um oratório. Após o milagre das velas que se apagaram e se acenderam por si mesmas, durante a recitação do rosário, a imagem se tornou propriedade dos devotos brasileiros que ali acorreram em número cada vez maior.
O vigário de Guaratinguetá construiu-lhe, em 1745, uma capela no Morro dos Coqueiros. A atual Basílica Velha foi iniciada, em 1834. A Nova Basílica foi iniciada em 1955. Tornou-se Santuário Mariano Nacional, desde 1984, pela Conferência dos Bispos do Brasil.
A princesa Isabel ofereceu uma coroa de ouro e o manto azul para cobrir a imagem, em 1884. O papa Pio XI proclamou Nossa Senhora da Conceição Aparecida como Rainha do Brasil e sua Padroeira Oficial. Tornou-se símbolo de unidade nacional católica.
Quando a Nação se vê fragilizada e esfacelada por crises e rupturas, olhar para a Senhora é garantir-lhe a restauração. A crise multifacetada de problemas vividos, em plenos festejos dos 300 anos, provoca-nos à confiança. Desafia-nos a ações saneadoras. Segundo a bela expressão de São Bernardo, a direção do olhar para Maria, Estrela do Mar, dá sentido à esperança de alcançarmos o porto seguro. Assim, jamais nós naufragaremos. Apesar dos pesares, o Brasil está nas mãos de sua Rainha.
Segundo, coroa nosso mês missionário a canonização dos Bem-aventurados Mártires do Rio Grande do Norte, no dia 15 de outubro, pelo Papa Francisco, em Roma. A evangelização deste Estado da Federação iniciou-se em 1597 por missionários portugueses. Com a invasão de holandeses, de confissão calvinista, aliados aos índios tapuias e potiguares, surgiu a hostilidade contra os católicos, devido à mescla de intolerância religiosa com interesses econômicos na próspera região.
O padre André de Soveral, em 16 de julho de 1645, foi morto junto com os fiéis leigos da Comunidade de Cunhaú durante a celebração eucarística. A seguir, no dia 3 de outubro, o padre Ambrósio Francisco Ferro e seus paroquianos da Comunidade de Uruaçu foram torturados e mortos. Mateus Moreira, leigo, cujo coração foi arrancado pelas costas, teve forças para aclamar: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”! São conhecidos os nomes de outros 27 fiéis leigos.
Os Protomártires do Brasil e do Rio Grande do Norte regaram a terra de nossa Pátria com o sangue do testemunho de fidelidade ao Cristo e à Igreja. São as primícias do trabalho missionário e seu honroso fruto em terra potiguar. Significa que, desde o início, o catolicismo difundido com sacrifício e abnegação de tantos, na Terra de Santa Cruz, gerou autênticos discípulos do Mestre Crucificado.
O Cardeal-Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Eugênio de Araújo Sales, ilustre filho de Rio Grande do Norte, deu à Obras Sociais o nome dos martirizados, quando Arcebispo de Natal, para que não fossem esquecidos. Empenhou-se pela beatificação deles. Interessava-lhe ver o dia da canonização. Há de celebrar, na eternidade feliz, o triunfo de Cristo, no testemunho dos primeiros mártires em chão brasileiro. Os Protomártires nos estimulem na missão de evangelizar o Brasil.