A última semana é da retrospectiva e, diante dos fatos inusitados da política brasileira, facilmente se diz adeus a 2016.
Sob muitos aspectos, a carga foi e está sendo pesada. Por isso, devido à crise econômica, política e ética, repetiremos os ritos de passagem, conforme nossos costumes, cantando a todo vapor: “adeus ano velho, feliz ano novo”.
Entretanto, a crise não passará de imediato, advertem os analistas da conjuntura. As previsões do futuro são sombrias ou realistas. As sombras dançam em ritmo frenético e desengonçado: a inflação flutuante, o endividamento público e pessoal, o desemprego em massa, a violência difusa, a ineficiência dos serviços públicos, a recessão da economia.
Apesar de tudo, emergem possibilidades de reformas que a realidade exige. A força dos impasses estimulará a criatividade. Antes de acrisolar, a crise propiciará decisões, fruto de discernimento e exercidas responsavelmente. Assim sendo, ela possibilitará as mudanças e, mesmo que não seja de imediato, surgirá novo tempo. Neste sentido, 2017 poderá ser o ano inicial da reconstrução nacional, diante da grande lista dos maus feitos.
Fator inédito de mudança é a emergência do Poder Judiciário. Aplica as leis contra grupos poderosos e gente graúda, empresários e políticos, postos na cadeia ou a caminho. Determina a devolução aos cofres públicos da roubalheira milionária e até bilionária. Agora existe o bom retorno do que foi expatriado. Quanta corrupção desmascarada levou ao vexame público até às lágrimas os que antes eram zombadores de riso fácil! Quer dizer que o Brasil está em mudança e para melhor.
Trata-se, pois, de ver o outro lado da moeda, o positivo da crise. Os grandes ao serem acusados não só têm o direito à defesa, mas, são constrangidos a provar a própria inocência diante da opinião pública. É a demonstração que os corruptores e corrompidos, a falsidade e a falsificação não derrotarão o País. Os contra- valores estão sendo denunciados e as ações más, punidas. Os valores éticos estão sendo aspirados e reconhecidos. Não é apenas retórica de palanque e de parlamento. A própria crise obriga pela sua extensão e concretude à distinção e às correções.
“Mais que nunca é preciso cantar e alegrar a cidade”. Precisamos, de fato, de distensão, depois de um ano de tensões. Consequentemente, desejemos um feliz 2017, tão merecido, uns aos outros, pois a esperança não será a última que morra, enquanto houver um brasileiro vivo ou sobrevivente. Para que perder o sentido e o gosto de sorrir se tudo passa?
Indo ao encontro de realidades mais amenas, durante a Liturgia do primeiro dia de janeiro, nós vamos ler e ouvir a bonita bênção de Aarão, pronunciada sobre os filhos de Israel. É também a bênção de Jesus e de Maria sobre nós: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26)
Em seu rito de despedida, na ascensão, Jesus Cristo “erguendo as mãos, abençoou-os e, enquanto os abençoava, distanciou-se deles e era elevado ao céu” (Lc 24, 30-31). O retorno é ir a Deus Pai. Definitivamente. No entanto, o Filho não faz um gesto de adeus ou de até breve. Simplesmente, ergue as mãos e abençoa. Assim, deixa conosco sua última mensagem. Por conseguinte, com as bênçãos que o Pai nos presenteou em Cristo (Ef 1,3), entremos em 2017, com determinação e serenidade, bendizendo pelos dons da vida e da graça e da fé. Bendito seja Deus! Bendita a Trindade Santa! Bendita Santa Maria, a Mãe de Deus! Sejam benditos quem nos bendiz!