A Solenidade do Sagrado Coração ocorre na sexta-feira, após o segundo domingo depois de Pentecostes. Neste ano de 2018, em 8 de junho. A propósito, São João Paulo II determinou que o clero se reunisse para um dia de santificação. Os padres da Diocese de Iguatu se encontrarão na véspera para a meditação e confissão sacramental. Por isso, peço aos diocesanos que se unam a eles em oração por sua santificação pessoal.
Toma-se a parte pelo todo quando se diz Sagrado Coração de Jesus. É mais do que simples figura de linguagem. Visa à contemplação e à aceitação da inteireza do mistério, a divindade e a humanidade de Cristo desde o lado aberto. Supõe a expressão com a qual João engrandeceu a morte de Jesus naquela hora e para o futuro: “Olharão Aquele que transpassaram” (Jo 19, 37).
Desde então, o lado aberto é parte significativa e provocativa do todo a ser contemplado objetivamente. Inclui igualmente a totalidade do olhar pessoal do crente, isto é, a perspectiva em profundidade e em extensão dada pela visão da fé. Trata-se de uma revelação para quem compreende, aceita e adere.
O Transpassado, também nas mãos e nos pés, é uma chaga viva cujo “lado” jorrou sangue e água (v. 34). Para quem aprendeu a contemplar o Crucificado, seu sangue remete ao sacrifício do cordeiro imolado (Lv 1, 5) e à aliança (Ex 24, 8), atualizados e renovados na carne, imolada e doada para a vida do mundo (6, 51).
Os santos Padres viam no sangue a Eucaristia, memorial da redenção, e na água o batismo pelo Espírito Santo que dá a vida nova da graça. Em consequência, viam no lado aberto a figura do novo Adão adormecido a dar vida à nova Eva, a Igreja, como sua esposa. Estreita com ela e, portanto, conosco, laços sagrados de amor, de ternura, de misericórdia.
Contemplar a água que jorra do lado de Jesus é também referir-se ao simbolismo profético da fonte aberta para lavar o pecado e a mancha, especialmente a idolatria ou a infidelidade à aliança (Ez 13 1-4). Igualmente, é referência ao novo culto cujo templo possui a fonte da água viva (Ez 47, 1-12) em relação ao dom do Espírito, pela mediação do corpo ou da humanidade de Jesus. Seu corpo ressuscitado é o novo Templo de acesso a Deus.
Contemplar o lado aberto é, para os místicos, tocar com os olhos da mente e da fé a concretude do amor de Deus, qual viva chama. São João da Cruz cantava: “ Oh! Chama do amor viva…rompe a tela deste doce encontro”. O Coração de Jesus é chamado de “chama ardente de caridade” e é representado envolto em fogo e luz. Conduz ao testemunho de Jesus nos Evangelhos e nas Cartas paulinas, máxime na sua doação até a morte de cruz.
Contemplar Jesus, na mística do Coração, é entrar na sua chaga aberta para encontrar ali abrigo, repouso, consolação, perdão, discernimento, paz. A chaga sempre aberta sinaliza para o Senhor que se deixa amar e encontrar permanentemente.
Gerações, sobretudo na vida religiosa e sacerdotal, encontraram na espiritualidade do Coração ânimo para impregnarem o mundo de justiça e de reconciliação. Fizeram grandes obras sociais e educativas. Mantiveram-se fieis, otimistas e vibrantes ou perseverantes na incompreensão e na perseguição até o martírio. As famílias, os casais e a juventude encontraram sentido de ser e de existir cultivando a devoção ao Coração de Jesus. Gente pecadora, repleta de perfídia e de tibieza, foi regenerada e convertida ao encontrar-se com o amor misericordioso e libertador.
Consequentemente, a devoção que é ao próprio Redentor nada tem de sentimentalismo estéril ou vazio, quando é bem apresentada pelo ensinamento para ser vivida. É cultivar e praticar o mesmo sentimento de Cristo, como nos ensina Paulo (Fl 2,5). Portanto, saibamos dar acesso às novas gerações de leigos (as) e de sacerdotes à espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus!