Pentecostes é o cumprimento da promessa: “É do vosso interesse que eu parta, pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se eu for, irei enviá-lo a vós” (Jo 16, 7). Pentecostes é, portanto, o envio do Espirito por meio do Filho da parte do Pai. Expressa o mistério revelado de Deus-Trindade, conforme Jesus dissera: “Tudo o que o Pai tem é meu. Ele (o Espírito) receberá do que é meu e vos anunciará” (16, 15). Mistério de relação de Deus em si mesmo e para nós.
Com o batismo no Espírito, em Pentecostes, nasce a Igreja, instrumento de comunhão entre os seres humanos. Fundada por Jesus, ela se torna fenômeno expressivo e histórico e universal, desde Jerusalém, pela força do Espírito Santo. Nascemos do fogo, como previra João Batista: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e o fogo” (Lc 3,16). Incêndio que não destrói, pois constrói nossa vida em Cristo, no impulso da Palavra que se alastra para a glória do Pai.
As “línguas como de fogo”, repartidas e pousadas sobre cada um do grupo apostólico (At 2, 3), Maria e algumas mulheres (1, 14), relacionam-se com o dom das línguas (2, 4), ligado à Mensagem compreendida. De fato, no simbolismo da linguagem, observa-se que nascemos católicos, isto é, abertos a todos, capazes de nos comunicarmos em qualquer tempo e lugar.
No idioma pentecostal, “todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua” (At 2, 11). É o contrário da simbólica, dispersiva e desagregadora dos idiomas da confusão, representada por Babel do desentendimento (Gn 11, 1-9). Agora, podemos ouvir a Palavra de Deus, em Cristo, compreendendo-a e aceitando-a em nosso próprio idioma (2, 6), isto é, com nosso modo de pensar e de sentir e de acordo com a enculturação da fé, forma peculiar de nosso encontro. Estamos na pátria comum, concidadãos dos santos, não mais estrangeiros. A Igreja nasce una, santa, católica como mistério de comunhão e de unidade, desde o batismo e na fé, transmitidos por Pedro em Pentecostes.
Quanto a Paulo, ensina que fomos batizados num único Espírito para formarmos um único corpo (1 Cor 12,13) e que a manifestação do Espírito, visibilizada em dons e carismas, dá-se em vista do bem comum (v. 7). Pentecostes exclui a uniformidade e a mesmice, mas cria a unidade na comunhão e a novidade criativa, fiel à tradição recebida. O Espírito é nossa liberdade em Cristo para que também atuemos os ministérios, segundo os diversos modos da graça.
É admirável a ação do Espírito na Igreja e nos seus membros, especialmente, a obra de nossa santificação pessoal. Louvemos, pois, o Espírito pelo qual reconhecemos que Jesus é o Senhor (1 Cor 12, 3). Santos e santas, reconhecidos e diferentes entre si, viveram o senhorio de Cristo.
Reconhecemos o fruto do Espírito: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gal 5, 22). A propósito, Bento XVI lembrava que “o Apóstolo usa o plural para descrever as obras da carne, que provocam a dispersão do ser humano, enquanto usa o singular para definir a ação do Espirito, fala de “fruto”, precisamente como à dispersão de Babel se contrapõe a unidade de Pentecostes “ (Homilia, 27 de maio de 2012). Existe, pois, a vivência da moral cristã decorrente da recepção do Espírito Santo na existência. Ele conforma nossa vida à vida de Cristo, como ensina Paulo em suas Cartas.
Viver Pentecostes é permanecer na graça santificante e na observância do mandamento de Jesus, expresso no amor, cujo fruto é a alegria. O contrário é viver na Babel com suas consequências, em geral, desastrosas. A Igreja é convocada a renascer em Pentecostes, mais renovada, mais vivificada, mais purificada. Suplica ao Santificador: “Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei. Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons” (Sequência).
Partimos do cenáculo para a praça pública, à semelhança de Pedro em Pentecostes. A missão é a aventura que nos aguarda. Saímos para acender o fogo que brota da mesma ânsia do desejo de Jesus: “Como desejaria que já estivesse aceso”! (Lc 12,49). Que o desejo se realize e consuma!