O significado do domingo cristão chama nossa atenção, primeiramente, por sua antiguidade. Desde os tempos apostólicos, como se lê no texto paulino: “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de lado o que conseguir poupar” (1Cor 16, 2). Indica ele ser o dia semanal no qual se realizava a assembleia cristã. Portanto, propício para a coleta a favor dos cristãos de Jerusalém que passavam necessidade (cf. Rm 15,26-28). O mesmo acontece ainda hoje quando são feitas coletas durante as celebrações dominicais, pois a comunidade se encontra reunida.
Não há textos no período apostólico que afirmem a fixação do dia da celebração da Páscoa da Ressurreição. Até hoje há discussão sobre a datação entre ocidentais e orientais. Entretanto, não se discute o domingo, pois os discípulos se reuniam no primeiro dia da semana, desde os tempos apostólicos. O domingo é unanimidade. Significa, oriundo do latim, o Dia do Senhor.
Os judeus convertidos não trabalhavam no sábado –dia do descanso- mas se reuniam na assembleia dominical para o culto. Tal observação é importante. Indica que o domingo é de origem cristã. Não nasceu como sendo um dia de descanso, à semelhança ou no lugar do sábado judaico. É genuinamente cristão tanto no novo simbolismo quanto na nova prática.
O que faziam os discípulos de Jesus na assembleia dominical? A fração do pão, o mesmo que celebração eucarística, isto é, a ação de graças, em referência à última ceia. Jesus “tomou um pão, deu graças, partiu e distribui-o a eles” (Lc 22, 19). É chamada de missa, posteriormente, devido à saudação final de despedida no rito romano: “Ite missa est”. Logo, missa é “apelido”.
Os Atos dos Apóstolos recordam a assembleia dominical. Dizem: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para a fração do pão, Paulo entretinha-se com eles” (20, 7). Esta reunião dominical começava no sábado à noite ou na véspera, segundo o modo de contar judaico. A renovação conciliar repropôs celebrar a liturgia dominical a partir da tarde do sábado.
A relação com a Páscoa da Ressurreição do Senhor sempre existiu, pois, o primeiro dia da semana coincide com as experiências pascais, em torno do túmulo aberto e vazio, antes das aparições. Escreveu Mateus: “Após o sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria vieram ver o sepulcro…Ele não está aqui, pois ressuscitou, como havia dito” (28, 1.6). Quanto a João: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro (20,1).
Portanto, o domingo cristão nasceu para ser o dia do culto, motivado pelo memorial do Senhor, em ligação com o sentido dado à celebração da Ceia: “Façam isto em minha memória” (Lc 22,19). O descanso e a proibição do trabalho servil são posteriores. Somente no século VI, entrou o preceito dominical como entendemos hoje. Este fato reforça a peculiaridade do nosso domingo que não pode ser visto em continuidade ou em substituição do sábado judaico.
O descanso de início não fora prioritário, mas sim a consagração do trabalho semanal como oblação. Com Cristo e em Cristo e no Espírito, oferecemos ao Pai o fruto das atividades para “em tudo dar graças” (1 Tes 5, 18). Inclui o oferecimento de si mesmo no ofertório da vida: “como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é vosso culto espiritual” (Rm 12, 1).
O não comparecimento também é antigo. Daí a exortação: “Não abandonemos a nossa assembleia, como é costume de alguns” (Hb 10,25). Vivência do domingo leva à presença na comunidade eucarística que reforça a pertença eclesial, comunitária. Além disso, por força do Sacramento, dinamiza a jornada para fazer o bem, visitar os doentes, conviver com a família.