Celebraremos com Nossa Senhora de Lourdes o Dia Mundial do Enfermo, em 11 de fevereiro.
Existe ligação histórica e devocional entre a fonte cavada na terra por Santa Bernadete, a vidente, e a cura de doentes, sobretudo durante a bênção do Santíssimo. A presença deles explica a construção de hospitais por perto. A própria Bernadete entrou em uma ordem religiosa de irmãs enfermeiras.
Vale recordar o testemunho da Santa quanto à aparição do dia 25 de fevereiro de 1858. A Senhora disse-lhe: “Vá, beba da fonte e lave-se nela”. Não conhecendo nenhuma fonte na rocha, dirigiu-se ao rio. A Senhora explicou que não era isso que queria. “Ela apontou com o dedo mostrando a fonte. Eu fui lá. Vi apenas uma água turva e pouca. Introduzi minha mão, mas não consegui o suficiente para beber. Cavei e a água aflorou, só que barrenta. Três vezes lancei-a fora, mas a quarta vez pude bebê-la”. Em uma semana, a fonte lançava 121 mil litros de água. Isto acontece ainda hoje.
Naquele ano de 1858, no dia 26 de fevereiro, 800 pessoas presenciaram o surgimento da fonte. Providencialmente, correspondia à segunda sexta-feira da Quaresma. Maria Santíssima ordenara penitência em consonância com o tempo litúrgico e com o evangelho do dia, da piscina de Betesda, cujas águas tinham poderes curativos (Jo 5, 1-15). Aliás, muito nos constrange à narrativa: “deitados pelo chão, numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos ficavam esperando o borbulhar da água” (v. 3). Entretanto, apenas a um deles Jesus revela seu poder de restituir-lhe a saúde plena. A seguir, estimula-o à conversão contínua: “Não peques mais! ” (v. 14).
A presença de incrédulos e céticos e curiosos era numerosa durante o fenômeno das aparições em Lourdes. Bernadete, muitas vezes, foi tratada como se fosse impostora. Por isso, sofria. Serenadas as dúvidas dos adversários, inclusive de suposta manipulação eclesiástica, a verdade triunfou. Desde então, a fonte produz admiração. No entanto, ali nada existe de espetacular e de artificial. Nada de exaltação ruidosa ou de excitação barulhenta. Tudo se passa em silêncio e em oração.
O fenômeno de Lourdes é de fé católica. Não é tanto de curas físicas, embora existam comprovadas. Acentuam-se as conversões, fruto da ação medicinal da graça divina. Trata-se da resposta ao apelo de Maria à penitência e à oração.
Nada de lágrimas como em Salete. Ao contrário, Maria prefere sorrir. Sorri várias vezes para Bernadete. Este detalhe não pode ser irrelevante. Sorrir é outra forma de terapia. Faz bem aos doentes que não podem retribuir. É útil aos que deles cuidam e reaprenderão a rir-se da vida.
O Dia Mundial do Enfermo faz pensar nas práticas que efetivam o bem-estar pleno dos doentes: medicina preventiva e curativa, políticas públicas, destinação das verbas, médicos e equipes qualificados de saúde, condições dignas de trabalho, diagnósticos precisos, universalização dos tratamentos e a tempo, procedimentos menos invasivos, medicamentos ao alcance de todos, modernização dos hospitais e equipamentos, faculdades de excelência e centros de estudo e de pesquisa. Enfim, a ética profissional.
O Dia Mundial do Enfermo estimula e compromete a Pastoral da Saúde e os párocos e capelães de hospital ou casas de saúde. A assistência religiosa ao doente é um direito que acompanha o dever. Supõe-se que o católico aguarde a confissão, a comunhão, a unção, a oração (cf. Tg 5, 14-15). Além disso, grande é a motivação em visita-lo porque Jesus se identifica com os enfermos (Mt 25, 39).
É devido ao doente o respeito à confissão de sua fé individual e mesmo de sua irreligiosidade ou descrença. Por conseguinte, é reprovável fazer proselitismo perto da hora da morte ou querer persuadir os acamados afim de que se convertam, aproveitando de sua fraqueza física e emocional e o desejo de cura imediata. Quem ama, respeita.