“Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite mediava o seu rápido percurso, tua Palavra onipotente lançou-se …” (Sb 18,14s); “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós e nós vimos sua glória…” (Jo 1,14). Deus preenche a ausência.
O silêncio dá sentido ao diálogo entre Deus e o homem, máxime na Encarnação, pois a palavra vai e vem, mediada pela pausa para a audição, a compreensão, a acolhida, o discernimento. O “faça-se” do Verbo recebe um corpo. O “faça-se” de Maria gera o Mistério. O Verbo ouviu o Pai. Maria ouviu o Arcanjo e disse sim a Deus.
Maria é, de fato, estímulo para nosso silêncio diante do Natal e da Infância de Jesus. “Conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração” (Lc 2,19). Compreendia e degustava na interioridade, tocada pelo Inefável, o Indizível. A nosso modo, interiorizamos tais acontecimentos.
José silencia. Silêncio dorido diante de Maria que nada lhe diz. Teria decidido deixa-la, secretamente. Todavia, o silêncio de Deus é rompido pelo anúncio do Embaixador, no sonho revelador. Ao acordar, desperta um novo homem: “age conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher” (Mt 1,24). Nesse sentido, José é também ótimo estímulo para nosso silêncio diante do Mistério do Natal e da Infância de Jesus. Compreendia na interioridade, emudecido, apenas tocado pelo Inefável.
A Palavra de Deus revela a importância de silenciar, diante da glória do Altíssimo, no santuário e no culto: “Silêncio em sua presença, terra inteira!” (Ml 2,20); “Silêncio! Toda carne diante de Yahweh!” (Zc 2,17); “Calai-vos, escutai!” (Is 41,1). Nossa Divina Liturgia com seu brilho, luzes e cânticos, vestes e ritos excita a visão e a escuta. Ensina e educa ao silêncio interior para que, invés de distração, celebremos a Memória.
Unamo-nos ao louvor que é a forma própria da gratidão diante do espetáculo da “manifestação da bondade de Deus, nosso Salvador” (Tt 3,4). Os anjos cantam: uma multidão do exército celeste (Lc 2,13). Para entender, participar e viver tamanha musicalidade, aprendamos a harmonia do saber ouvir. Sem pausa não se canta.
Caminha até Belém quem ouve e aprendeu a interpretar o anúncio do anjo. Da alegre notícia, os pastores se sentem convidados a ir, apressadamente. Espontâneos, eles só desejam ver: Vamos e vejamos! (Lc 2,15). Logo após, “Todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as palavras dos pastores” (v. 18).
O Papa Francisco facilita que muitos de nós tiremos o Natal da dissipação ruidosa do tempo presente. Os não-cristãos não são os responsáveis. Somos nós os que cremos ou já não cremos bastante. O Papa ajudou a voltarmos à simplicidade do Presépio. Ao seu silêncio, interpelante. Reconduziu-nos ao espaço do Presépio vivo de São Francisco.
Observou: “o próprio lugar onde se realizou o primeiro Presépio sugere e suscita estes sentimentos, Gréccio torna-se um refúgio para a alma que se esconde na rocha, deixando-se envolver pelo silêncio” (Admirabile Signum, 3). Silêncio envolvente!
PORTANTO, FELIZ NATAL, ENVOLVIDOS NO SILÊNCIO, NO RITMO DO CANTO, NA CADÊNCIA DA REZA! COM OS PASTORES, ENTREMOS NA GRUTA! O MENINO DORME NO COLO DE MARIA SOB O OLHAR DE JOSÉ!