Aproximando o dia feliz da canonização do Bem-aventurado Papa Paulo VI, em 14 de outubro, recordamos alguns aspectos modernizadores do seu pastoreio. O papado, por força de sua função eclesial e social, transformaria o homem Montini. Todavia, o lado humano e espiritual de Montini transformaria o papado, e para melhor.
As linhas condutoras de seu pontificado foram delimitadas, em parte na primeira Mensagem que dirigiu à Igreja e ao mundo, no dia 22 de junho de 1963, e em parte na Homilia da Missa de Coroação, em 30 de junho de 1963. Destacam-se cinco grandes itens renovadores que, em realidade, estavam relacionados. Foram todos cumpridos.
Primeiramente, Paulo VI se comprometeu a continuar o Concílio Ecumênico Vaticano II. Estava convicto que a parte mais importante de seu ministério seria ocupada pela continuidade do Concílio. Queria que fosse a obra principal como, de fato, foi. Ao Concílio, dedicou todas as energias físicas e espirituais. Sofreu muito em favor de sua implantação.
Incluiu a revisão do Código de Direito Canônico que rege as relações de justiça no interior da Igreja. Obra de fôlego, concluída por São João Paulo II. Empenhou-se também pela causa da justiça na vida civil, social e internacional. Para ele, o imperativo do amor ao próximo exigia de todos os homens uma solução mais equitativa dos problemas sociais. Lutaria em favor dos países em via de desenvolvimento, motivado pelo direito e a justiça. Para tanto, escreveu a Encíclica Populorum Progressio na qual afirma que o “progresso é o novo nome da paz”.
Outro aspecto de enorme relevância seria a Paz no mundo. Empenhou-se realmente para manter o que chamava de “grande bem” da paz entre os povos, diante da Guerra Fria e a do Vietnã. Estabeleceu a Jornada Mundial da Paz com as Mensagens dirigidas a todos, especialmente, aos líderes das nações. Sua visita a ONU teve como objetivo enaltecer o valor indiscutível da paz.
A unidade dos cristãos pôs Paulo VI no centro vital da união daqueles que acreditam em Cristo. Incentivou o movimento e o diálogo ecumênicos recomendados pelo Concílio. Neste sentido, realizou gestos inesquecíveis junto ao Patriarca Atenágoras e às delegações de várias Igrejas, nossos “irmãos separados”. Visitou o Conselho Mundial de Igrejas em Genebra.
Esforçou-se pelo diálogo com o judaísmo, as religiões e o mundo moderno. Dispunha-se a dialogar com todos, ouvindo as vozes que surgiam fora da fronteira do cristianismo. A cruz do diálogo, a mais pesada, foi dentro da Igreja devido à cisão entre conservadores e progressistas. O aumento crescente da deserção do clero foi, sem dúvida, sua coroa de espinhos.
Rompeu com a imagem do papa, prisioneiro do Vaticano, que São João XXIII começara a desconstruir com visitas a Roma e outras cidades italianas. Foi além quando anunciou sua peregrinação à Terra Santa. A seguir, foi à Índia para o Congresso Eucarístico Internacional, aos Estados Unidos da América para a Assembleia Geral da ONU, à Fátima em Portugal, à Turquia em Istambul, à Bogotá na Colômbia para o Congresso Eucarístico Internacional e ao CELAM, à Genebra na Suíça para a Organização Internacional do Trabalho e a Organização Mundial das Igrejas, à Uganda na África. Enfim, dirigiu-se à Ásia, Austrália e Oceania, abordando temas referentes à paz, ao desenvolvimento e à justiça.
A modernização da Igreja e do papado não foi obra só do Concílio. Deveu-se ao estilo de Paulo VI. Abriu caminho para as peregrinações dos sucessores. Simplificou vestes e ritos protocolares. Doou a tiara para a pobreza no mundo. Não mais haveria papas coroados e sentados em sedia gestatória. Extinguiu a Guarda Palaciana, mantendo apenas a suíça. Papa Francisco é da geração que conheceu um papado voltado para os pobres e em busca do despojamento. Agora, superada a nostalgia da corte pontifícia, não mais precisaria de entronização. Passou a residir até fora do palácio. O estilo despojado continua avançando e adorna os novos tempos do catolicismo.