O título se refere ao nome completo de São Jerônimo, monge, presbítero e doutor da Igreja cuja festa encerra o mês de setembro, dedicado às Sagradas Escrituras porque as traduziu para o latim, então língua oficial do Ocidente. “Apreciamos a franqueza, mas detestamos os francos”, dissera Dom Eusébio Scheid. É o caso de São Jerônimo: acumulou os desafetos porque dizia o que pensava, doesse a quem doesse. Que o diga Santo Agostinho que não foi poupado.
Além de ser esculpido ou pintado pelos artistas, velho sentado e escrevendo suas traduções dos textos sagrados, bate no peito com uma pedra, tendo um leão aos pés. Significa a fera amansada, símbolo do temperamento intempestivo, superado em parte pela ascese, e no contato social, especialmente, na Sé Romana e, bem mais, na solidão buscada no deserto.
Desde o início, cultivou santas e seletas amizades, em Aquileia, por volta do ano 370: o sacerdote e futuro bispo, São Cromácio; os diáconos Joviniano e Eusébio; Santo Heliodoro; Nepociano e Rufino. No entanto, logo experimentou também a inimizade e a oposição. Rufino se tornou seu forte opositor. O grupo de amigos se desfez, mas com alguns deles resolveu partir para o Oriente. Eles morrem. Após uma enfermidade, permanece só. Vive num deserto selvagem e pedregoso, em meio a escorpiões e feras, acometido de fortes tentações contra a pureza, vencidas ao custo de jejuns e de lágrimas.
Três rivais pretendem a sede de Antioquia, em meio a disputas doutrinárias e disciplinares, enquanto os monges do deserto de Calcídia se empenham para que se posicionasse. Recorre ao discernimento do papa São Dâmaso, escrevendo-lhe: Estou em comunhão com Vossa Santidade, isto é, com a cátedra de São Pedro; tenho certeza de que sobre esta rocha foi edificada a Igreja. Ordenai-me, se vos aprouver, e eu obedecerei. A seguir, já como sacerdote, participa de um concílio, em Roma, em 382. É retido na cidade para ser secretário do papa. Exerceu a função até 384 quando morreu o pontífice. Na ocasião também adquiriu novas inimizades por pessoas ressentidas pela franqueza rude de seus pareceres, somada ao estilo sarcástico. No entanto, cultivou algumas amizades entre monjas que dirigia, sobretudo, Santa Paula.
Caluniado, retorna ao Oriente. Retoma suas traduções. Escreve cartas em defesa da fé. Finalmente, com a vista e a voz enfraquecidos, e consumido pelo trabalho, morreu em Belém, a 30 de setembro de 420, onde foi enterrado. Posteriormente, os restos mortais foram transladados para a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.
São Jerônimo nos motiva à leitura e ao estudo dos textos bíblicos. A um jovem sacerdote escrevera: “Lê com frequência a Sagrada Escritura. Melhor dizendo, tem sempre em mãos as leituras santas”. Igualmente, incentiva-nos a amar a verdade, a agir com retidão, a cultivar fidelidade à Igreja Católica e ao sucessor de Pedro.