Ocorrerá na Arquidiocese de Londrina o 14º Intereclesial com representantes das Comunidades Eclesiais de Base de todo o Brasil inclusive da Diocese de Iguatu. Tratarão dos desafios no mundo urbano onde vivem muitas Comunidades, embora sejam mais ligadas ao mundo rural.
Existe um parentesco pastoral e um vínculo histórico entre o mundo urbano e as Comunidades Eclesiais desde a experiência apostólica de Paulo nas cidades do Império Romano. Os Atos e as Cartas deixam a entender. O movimento de difusão do Evangelho logo se tornou urbano e gentio. Deixou de ser rural e palestino. Com a mudança, o modo de viver nas cidades influenciou a existência cristã, a partir das Comunidades até a ampla organização em Paróquias, Dioceses e Províncias Eclesiásticas, de acordo com as vilas e cidades e regiões.
As Igrejas paulinas se constituíram em pequenas assembleias, localizadas em uma cidade, inicialmente em casa de família. Reunião de encontro em lugar e hora marcada. As Cartas foram endereçadas a estas Igrejas, já com certa organização ministerial, cujos destinatários viviam na urbe. O próprio Paulo se entende como homem de cidade, judeu nascido em Tarso da Cilícia e cidadão romano. Como cristão, reconhecia-se entre os concidadãos dos santos.
Paulo entrava nas cidades para pregar o Evangelho e fundar Igrejas: cidades, vias comerciais do Oriente para o Ocidente ou centros de comércio; cidades portuárias, núcleos de exportação e importação. Ele aproveitava das estradas construídas pelos romanos. Seguia suas rotas marítimas de navegação. A rede de ligação urbana e entre as províncias do Império facilitou o roteiro destas viagens missionárias, por terra e mar, até chegar ao coração da Roma imperial.
Outro parentesco das CEBs é com o social paulino. O Apóstolo se pôs na extremidade inferior da escala da sociedade por opção pelos pobres. Dirigia-se aos que viviam do seu trabalho, judeus ou gentios. Estabelecia a base de apoio da missão em uma casa e oficina. Nelas formava novas e dinâmicas Comunidades de partilha de bens entre irmãos, a família de Deus, não mais estrangeiros. Separados do paganismo, participavam do dinamismo urbano, mas comportando-se como novas criaturas, desde o batismo, na verdade, no amor e na justiça.
A propósito, Paulo descreve a realidade social e espiritual da Comunidade de Corinto, cidade portuária, dando a entender que a maioria de seus membros provinha das camadas populares: “não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa” (1 Cor 1, 26). Ao salientar seu impacto profético, afirma: “Deus os escolheu para confundir os sábios… e confundir os fortes… “ (v. 27). Igualmente, enfatiza seu amor desprendido: “ …a extrema pobreza converteu-se em riqueza de generosidade” (2 Cor 8, 2). As Comunidades paulinas sabiam partilhar. Eram solidárias. O mesmo podemos dizer das CEBs.
Outro parentesco é com a “cultura dos pobres” e o “poder dos fracos” nos centros urbanos, ocupados por migrantes. Eles dão vida à vida da cidade. Com fantasia, refazem o espaço e ocupam o tempo. Recriam normas. Modificam os ambientes familiares, a moradia, o trabalho, o comércio e a própria economia. Inventam a ética e a estética ao introduzirem em seus costumes rurais novos hábitos adquiridos, no âmbito da religiosidade, da arte, do jogo e do espetáculo, do lúdico em geral. Neste contexto de luzes e de sombras, estão as CEBs. São interpeladas por enormes desafios. Devido a eles, reivindicam melhorias de direito ao saneamento, à saúde, à educação, à iluminação, ao asfalto, ao transporte e à segurança. Graças à luta junto aos poderes públicos, na mística da junção entre FÉ, POLÍTICA, VIDA, terrenos ocupados e bairros populares foram regularizados e urbanizados e Associações de Moradores surgiram. Por esta tríade bem articulada, os desafios urbanos são desafiados.