O Parque do Bicentenário ficou completamente lotado na manhã desta terça-feira (07/07) em Quito, no Equador, aonde o Papa celebrou uma missa campal. Situado na zona norte da capital, o parque é a maior área verde da cidade, com 125 hectares e ocupa o terreno anteriormente ocupado pelo aeroporto.
Foi inaugurado em 2013, para comemorar duzentos anos de independência do país, e seu projeto contempla ainda a construção de campos esportivos, museus, áreas culturais e de lazer.
Concelebraram com Francisco cerca de 40 bispos locais, inclusive os eméritos, e no final da missa, tomou a palavra o Arcebispo de Quito, Dom Gabriel Trávez Trávez, OFM.
O carinho envolvedor dos equatorianos
Como sempre, o Papa foi acolhido pela multidão com aplausos e manifestações de afeto. Milhares de fiéis, muitos dos quais passaram a noite no local, lançavam pétalas e agitavam bandeiras com o rosto do Pontífice. Muitos erguiam terços, cruzes e outros objetos na passagem do papamóvel. Em seu trajeto, o Papa fez uma breve parada para abençoar uma senhora cadeirante.
Segundo o Padre Richard Ordóñez, porta-voz da Arquidiocese de Quito, cerca de 2.000 pessoas, entre leigos e religiosos, distribuíram a comunhão. O primeiro canto entoado foi “Equador abre as portas ao redentor”, o mesmo utilizado há 30 anos, quando João Paulo II visitou o Equador.
A homilia
O Pontífice iniciou a homilia da missa ‘pela evangelização dos povos’ com a afirmação que “a palavra de Deus convida-nos a viver a unidade, para que o mundo acredite” e relacionou o sussurro de Jesus na Última Ceia com o grito da Independência da Hispano-América, um grito nascido da consciência da falta de liberdade, de estar a ser espremidos e saqueados, “sujeitos às conveniências dos poderosos de turno”.
“Nós todos juntos, aqui reunidos à volta da mesa com Jesus, somos um grito, um clamor nascido da convicção de que a sua presença nos impele para a unidade, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível”, lembrou o Papa à multidão de fiéis que o ouviram em silêncio. “Nossa resposta deve repetir o clamor de Jesus e aceitar a graça e a tarefa da unidade”, completou.
Continuando, explicou que Jesus nos enviou a este mundo desafiador e dilacerado pelas guerras e a violência que ele mesmo experimentou na sua própria carne: intrigas, desconfianças e traição no dia-a-dia. E o comparou com aquele grito de liberdade que prorrompeu há pouco mais de 200 anos:
“A história conta-nos que só se tornou contundente quando deixou de lado os personalismos, o afã de lideranças únicas, a falta de compreensão de outros processos libertadores com características diferentes, mas não por isso antagônicas”.
Neste sentido, o Papa questionou: “Poderá a evangelização ser veículo de unidade de aspirações, sensibilidades, esperanças e até de certas utopias? É claro que sim; isso mesmo acreditamos e gritamos. Como disse uma vez, “enquanto no mundo, especialmente em alguns países, se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos a carregar as cargas uns dos outros”.
“Daí a necessidade, explicou, de lutar pela inclusão em todos os níveis, evitando egoísmos, promovendo a comunicação e o diálogo, encorajando a colaboração. É preciso confiar o coração ao companheiro de estrada, sem medo nem ceticismo. A unidade é impensável se a mundanidade espiritual nos faz estar em guerra uns com os outros, na busca estéril do poder, do prestigio, do prazer ou da segurança econômica. e isto às custas dos mais pobres, dos mais excluídos, dos mais indefesos, dos que não perdem a sua dignidade embora esta seja pisoteada todos os dias”.
“A evangelização não consiste em fazer proselitismo, o proselitismo é uma caricatura da evangelização, mas em atrair os afastados com o nosso testemunho, em aproximar-se humildemente daqueles que se sentem longe de Deus e da Igreja, daqueles que se sentem condenados ‘a priori’ por aqueles que se sentem perfeitos e puros; aproximar-se daqueles que têm medo ou dos indiferentes, para lhes dizer: ‘O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e fá-lo com grande respeito e amor’”.
O Papa também lembrou que a evangelização “também não é um arranjo feito à nossa medida, no qual ditamos as condições, escolhemos alguns membros e excluímos os outros. Jesus reza para que façamos parte duma grande família, na qual Deus é nosso Pai e todos nós somos irmãos. Isto não se fundamenta no fato de ter os mesmos gostos, as mesmas preocupações, os mesmos talentos. Somos irmãos porque Deus nos criou por amor e, por pura iniciativa Dele, nos destinou para sermos seus filhos”. Somos irmãos, porque, justificados pelo sangue de Cristo Jesus passamos da morte à vida, fazendo-nos ‘co-herdeiros’ da promessa. Esta é a salvação que Deus realiza e a Igreja alegremente anuncia: fazer parte do ‘nós’ divino”.
Concluindo, Francisco afirmou que seria belo se todos pudessem admirar como nos preocupamos uns pelos outros; como mutuamente nos animamos e fazemos companhia. “Em qualquer doação, é a própria pessoa que se oferece. ‘Dar-se’ significa deixar atuar em si mesmo toda a força do amor que é o Espírito de Deus e, assim, dar lugar à sua força criadora. Dando-se, o homem volta a encontrar-se a si mesmo com a sua verdadeira identidade de filho de Deus, semelhante ao Pai e, como Ele, doador de vida, irmão de Jesus, de Quem dá testemunho. Isto é evangelizar, esta é a nossa revolução – porque a nossa fé é sempre revolucionária – este é o nosso grito mais profundo e constante”.
Por Rádio Vaticano