Papa Francisco canoniza o Arcebispo de San Salvador, Dom Oscar Romero, juntamente com o Papa Paulo VI. Já apresentamos aspectos da figura e da obra do Papa. Destacamos agora a figura do Arcebispo.
Romero é mártir da justiça, da paz e da verdade. Portanto, da caridade social. Promoveu-a com a palavra instigante e cortante da verdade, com o testemunho coerente do pastoreio e a morte súbita e violenta. Merece o reconhecimento de herói do seu povo, honra da Igreja e o melhor dos títulos: ser discípulo e testemunha de Cristo Servo, Pobre, Profeta, Mártir.
No dia 24 de março de 1980, na Capela do Hospital da Divina Providência, enquanto celebrava a Santa Missa, foi covardemente assassinado, quando iniciaria a apresentação das ofertas para o sacrifício. Tornou-se, assim, ofertório com o Cristo oferente e as oferendas do povo de quem era servidor.
Seus biógrafos ressaltam que há três anos se transformara na voz de denúncia corajosa contra a repressão dos governos militares e de direita, responsáveis pelo clima de terror estabelecido contra quem reivindicasse a liberdade política e a de expressão, apontasse crimes contra a população empobrecida e apontasse a desigualdade social estrutural.
Calcula-se que cerca de 80 mil pessoas, entre mortos e desaparecidos, em El Salvador, por mais de uma década, somam-se aos milhares vitimados, durante o século 20, nas mãos de comunistas, nazistas, fascistas e de outros líderes militares dos regimes de exceção da América Latina, durante a Guerra Fria. Entende-se por que São João Paulo II afirmara que o século 20 é: “o século dos mártires”, referindo-se apenas aos católicos presos, torturados e mortos, sem acrescentar, na ocasião, o holocausto dos judeus e o extermínio dos armênios, etc.
Santo Oscar Romero, em meio ao clima revolucionário de sua pátria, em que camponeses, mulheres, crianças e idosos, bem como lideranças católicas, eram assassinados, viveu a bem-aventurança dos que são perseguidos por causa da justiça. Defendeu os pobres. Promoveu a libertação dos oprimidos. Na sua lucidez, repetia: “ O fato de nos colocarmos ao lado dos pobres nos custa o sangue. Tanto sangue é um sinal dos tempos”. Chegou a sua vez.
Em 21 de junho de 1978, o Santo Padre Paulo VI, papa do ensinamento social, do diálogo com todos, da paz entre as nações e do desenvolvimento dos povos, recebeu Dom Romero como se recebe um irmão querido. Precisava de compreensão e de apoio. O papa lhe fez bem, escreveria no Diário. Na ocasião, dissera-lhe palavras encorajadoras: “Compreendo teu difícil trabalho. É um trabalho que pode não ser compreendido, é preciso ter muita paciência e muita firmeza. Sei que nem todos pensam igual; é difícil, nas circunstâncias do teu país, ter um pensamento unânime; todavia, continue com coragem, com paciência, com força moral, com esperança”.
Dom Luigi Bettazzi, Bispo emérito de Ivrea, avaliou: “…sabia que seu comportamento alimentava a esperança por uma vida mais livre, mais humana, e agia assim levado por sua missão de cristão e bispo; sabia que isso poderia leva-lo à morte e continua certamente porque era cristão e bispo. Acredito, pois, que podemos definir Dom Romero como o mártir da esperança”.
A opção preferencial pelos pobres faz parte do Evangelho de Jesus, manso e humilde de coração. Brota do mesmo convite feito ao jovem rico: “vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres e terás um tesouro no céu” (Mc 10, 21). Convite a uma vida despojada, de partilha e de doação de si. Dom Romero aceitou. Fez-se pobre com os pobres para viver a fé, operosa pela caridade. Tornou-se profecia em ato para a gente sofrida da América Latina. A esperança é a âncora da cruz do Senhor que o levou ao porto seguro da glória onde canta o cântico novo, reservado aos mártires, junto com todos os trucidados da história, sobretudo, os camponeses.