MALES “DA VELHA SENHORA”

Nós, brasileiros, assistimos, cada vez mais perplexos, ao espetáculo da corrupção generalizada que a Operação Lava-Jato e outras têm desvendado no rastro de licitações e de propinas e no rastreamento dos desvios de cifras milionárias e bilionárias.

Haja delação! Envolve figurões da República e os partidos e os políticos e líderes de poder decisório de tendências ideológicas diversas. Os valores altíssimos fascinam, seduzem. Por bem menos, Jesus foi traído por Judas Iscariotes.

Quando se tratam de grandes somas multiplicadas, poucos resistem em vender a alma ao diabo e a render culto ao deus do dinheiro iníquo. A resistência precisa de dose superior de heroísmo ou da graça vitoriosa do Deus vivo e verdadeiro. Não é suficiente ser patriota. Significa, então, que ser honesto é excepcional? Há somente a necessidade pessoal de superar as circunstâncias permissivas e sedutoras e, objetivamente, ter de aceitar que o Direito pode ser aplicado. Portanto, não basta constatar que “a corrupção é uma velha senhora” ou que todos somos corruptíveis e podemos ser corruptores. Somos igualmente passíveis de punição. A aplicação da lei é o único limite dado aos corruptos.

Para não desanimar diante da enormidade da empresa saneadora pela qual passa a Nação Brasileira, a população honrada e trabalhadora precisa saber que a vitória é possível. Para o cidadão comum, primeiro importa desvendar-lhe os males que a corrupção produz. Ela trai os princípios da moral e as normas da justiça. Compromete o correto funcionamento do Estado. Influi negativamente na relação entre governados e governantes. Introduz a desconfiança em relação à política e aos seus representantes. Enfraquece as instituições representativas. Usa a barganha entre solicitações clientelistas e os favores de governantes. Aumenta a desigualdade social, a ausência de estruturas e de serviços. Dificulta o acesso à educação, ao saneamento básico, à água potável. Adia a construção de casas, presídios, hospitais, escolas e a pavimentação de ruas. Torna ineficiente a segurança pública.

Como se não bastasse, a corrupção nacional está na base da atual crise econômica e política em cadeia. Atreladas, diminuem investimentos e aumentam a inflação, o desemprego e a inadimplência. De tanta sangria, o dinheiro falta ou escasseia.

Apesar de tantos pesares, o inédito momento nacional poderá produzir bons efeitos, se forem feitos os ajustes necessários. Depende de nossas lideranças ajustarem a economia e a política à realidade. Caso contrário, contribuirão com o crime lesa-pátria, de consequências irreversíveis. Por isso, a população quer mudanças e aprova o saneamento. Intuitivamente sabe que ainda há tempo.

A conjuntura nacional requer ação semelhante ao combate contra a saúva: ou o Brasil acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com o Brasil. Por conseguinte, as estratégias são de ataque e de defesa: apurar, punir, prevenir. Finalmente, devolver aos cofres públicos o que foi surripiado.

Além das reformas preconizadas e em andamento, urge renovar, o que leva mais tempo, a mudança de mentalidade dos gestores públicos. São as mesmas ideias encrustadas na memória coletiva e no imaginário cultural dos desiludidos: “Levar vantagem em tudo”; “O crime compensa”; “Só pobre vai para cadeia”; “Quem tem padrinho, não morre pagão”; “A ocasião faz o ladrão”; “Rouba, mas faz”. Diante de tais assertivas, quem poderia dizer o contrário?

O Brasil também precisa de homens e de mulheres de fé, verdadeiros adoradores e tementes a Deus que orem como Abraão: “Talvez se encontrem dez justos” (Gn 18, 32) para que a cidade não seja destruída, meu Senhor! Se não for cínico, quem assim reza se compromete em ser justo. Por isso, haverá bem mais, quem erguerá a pátria, na justiça e na verdade, comprometido com Deus, para que ela não sucumba por tantos desvarios. Com “fé em Deus e pé na tábua”, dirá ainda o povo crente.

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