Deus falara pela boca de Joel: “voltai para mim com todo o vosso coração…rasgai o coração…voltai para o Senhor, vosso Deus…inclinado a perdoar” (Jl 2, 12-13). Trata-se de comovente apelo à conversão. O motivo de confiança é o fato de Deus ser inclinado a perdoar.
A parábola do filho pródigo ou do pai misericordioso, a mais bela de todas, acentua tanto a bondade de Deus, capaz de perdoar, quanto a atitude do filho, impelido a retornar à casa paterna ao se encontrar na precariedade. Precisaria rasgar o próprio coração, o amor próprio e a vergonha, reconhecendo seu estado miserável e aceitar o perdão. Precisava confiar e retornar.
A parábola diz tudo por si mesma. Não precisa de explicação. No entanto, é possível acentuar alguns elementos até de ordem psicológica, mediante alguma descrição dos três personagens: o filho mais novo, o filho mais velho e o pai. É útil ilustrá-los pela meditação criativa. Possibilita entrarmos na cena com proveito.
Podemos considerar a situação do mais novo e (ou) do mais velho, ambos afastados do pai. Um se afastou para longe para esbanjar a própria vida no simbolismo dos bens. Outro, embora residindo com o pai, afastou-se do irmão que voltou e do pai que o aceitou. A misericórdia o escandalizara. Feriu sua compreensão de justiça: “tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com os meus amigos” (Lc 15, 29). O texto diz “ficou com raiva”, não com inveja. Raiva do pai pela injustiça sofrida. Porém, é aparente a injustiça, pois, o pai explica seu amor partilhado: “tu estás sempre comigo, tudo que é meu é teu” (v. 31)
Quanto ao filho mais novo, não foi fácil voltar. Foi muito incômodo. Foi bastante custoso. A parábola demostra o aspecto oneroso da conversão. Daí a figura do itinerário de volta à semelhança de um caminho a ser percorrido até a hora da decisão. Começa no íntimo do coração. “Caiu em si e disse: Quantos, empregados na casa de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou-me embora, vou voltar para meu pai” (v. 17-18). A certeza em ter um pai e de poder retornar é, então, fundamental para que se encorajasse a voltar.
No seu íntimo, planejava dizer: “Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados”. Dificílimo conviver com o relacionamento ferido, a aliança quebrada, a ausência de merecimento. Só podia pedir ser aceito como empregado e ser bem tratado como tal. Um simples pedinte. Mendigo.
Quanto ao pai, ama gratuitamente, incondicionalmente. Avistou-o de longe e quando estava chegando, sentiu compaixão do filho. O pai também se volta para o filho, em certo sentido. A parábola acentua: “Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (v. 20).
Deveríamos parar para experimentar a ternura de Deus, entrando na cena. Não bastava um beijo. O transbordamento da graça -do amor gratuito- que é a própria ternura divina explica o abraço na soma de beijos. O restante é complemento necessário: a entrega da veste, do anel, das sandálias, a preparação do banquete, o relacionamento reatado. O pai festeja mais do que todos: “este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado” (v. 24).
Com esta parábola, o quarto domingo da quaresma festeja o fruto alegre da Páscoa. Aliás, desde a antífona de entrada: “Alegra-te, Jerusalém! ” (Is 66, 10). Também a oração do dia pede a Deus que o povo cristão corra ao encontro das festas que se aproximam…exultando de fé. O salmo de resposta é um canto de exultação: “bendirei o Senhor em todo tempo, seu louvor estará sempre em minha boca. Minha alma se gloria no Senhor” (Sal 53). São motivos de festa.
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