Na Fratelli Tutti, o Papa Francisco apresenta seus sonhos com frequência, mas também a expressão insistente: é possível. O próprio conceito prático de mundo aberto é visto como possibilidade. Trata- se de pensa-lo e de gera-lo. Portanto, é uma proposta viável porque o “ser humano está feito de tal maneira que não se realiza, não se desenvolve, nem pode encontrar a sua plenitude ‘a não ser no sincero dom de si mesmo’, aos outros”.
O Santo Padre passa a convicção de que a “estatura duma vida humana” é medida pelo amor, critério para seu valor ou inutilidade. Afirma o critério dos crentes: o amor. Não na imposição de suas ideologias aos outros, na defesa violenta da verdade, ou em grandes demonstrações de força” embora muitos crentes assim o façam, deploravelmente. Francisco, portanto, atualiza e viabiliza a civilização do amor.
O Papa descreve a gratuidade do dom de si no amor que vai além de uma “série de ações benéficas”, pois, torna possível “aquela amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos”.
Os conceitos de amizade de integração social e de fraternidade universal possibilitam a criação de “sociedades abertas que integram a todos”. O Papa Francisco, consequentemente, aponta para as “periferias que estão próximas de nós, no centro duma cidade ou na própria família”. Cria expressões fortes e densas que suscitam as necessárias aproximações: forasteiro existencial, racismo dissimulado, exilados ocultos. Inclui também os deficientes e os idosos.
Ele adverte que não propõe “um universalismo autoritário e abstrato, ditado ou planificado…para homogeneizar, dominar e saquear”. Refere-se, de modo crítico, à globalização que visa à “uniformidade unidimensional e procura eliminar todas as diferenças e as tradições numa busca superficial de unidade”.
Ele recorda que no “mundo de sócios” não há lugar para pessoas que se fazem de próximas dos que precisam a exemplo do bom samaritano. Por isso, afirma a necessidade de “superar um mundo de sócios”. Os que apenas são sócios, “criam mundos fechados”, só para o próprio círculo. Segue a afirmação que o “individualismo radical é o vírus mais difícil de vencer”.
Chama a devida atenção que “palavras como liberdade, democracia ou fraternidade esvaziam-se de sentido, pois, ‘enquanto o nosso sistema econômico-social ainda produzir uma só vítima que seja e enquanto houver uma pessoa descartada, não poderá haver a festa da fraternidade’. Promove por conseguinte o bem moral, a incluir o bem dos outros, o valor da solidariedade e a função social da propriedade.
Enfim, reafirma que “é possível aceitar o desafio de sonhar e pensar numa humanidade diferente. É possível desejar um planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho para a paz e não a estratégia insensata e míope de semear medos e desconfiança perante ameaças externas”. Articula muito bem o sonho à possibilidade, o pensar ao agir. Enche o mundo e a Igreja de esperança e de confiança.
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