No 33º Domingo do Tempo Comum, por iniciativa do Papa Francisco, celebramos a PRIMEIRA JORNADA MUNDIAL DOS POBRES. A Liturgia da Palavra de Deus, na primeira leitura, motiva-nos para esta Jornada quando elogia a mulher forte, pois “abre suas mãos ao necessitado e estende suas mãos ao pobre” (Pr 31,20). Para a sensibilidade do Papa, partilhar com os empobrecidos permite compreender o Evangelho em profundidade, amando-os com obras.
A temática bíblica deste domingo é rica de imagens e de símbolos, referentes ao Tempo do Fim. A imagem do ladrão é uma entre outras. Afirma, simultaneamente, a certeza da vinda do Senhor com a incerteza do tempo e da hora.
Paulo escreve aos cristãos tessalonicenses (1Ts 5,1-6), afirmando que eles sabem perfeitamente que o Dia do Senhor virá como ladrão, de noite. Ressoa em Paulo a voz de Jesus, ainda não registrada nos sinóticos (Mt 24, 43; Lc 12, 39) ao dizer que Ele, em pessoa, virá como um ladrão. Imagem deselegante, à primeira impressão. Porém, certeira no ensinamento sobre a necessidade da vigilância de aguardar o inesperado (Lc 21,34). Paradoxalmente, dá-nos segurança este clima de incerteza.
A propósito, tomamos emprestado de Santo Agostinho a expressão extraída de outro contexto quanto à “douta ignorância”. Algo semelhante se dá na escrita de Paulo: “Quanto ao tempo e à hora, não há por que vos escrever, vós mesmos sabeis…” (v. 1-2). Porém, assim como nunca se sabe quando o ladrão vem, o mesmo acontece, seja com o Dia, seja com o retorno de Jesus. O próprio fato de vir à noite, na imagem paulina, chama a atenção para nossa sabida ignorância.
Juntamente, com a imagem do ladrão, surge a outra “de estar acordado” que a completa e explica. Paulo ao dizer que os tessalonicenses não estão nas trevas e não serão surpreendidos, pois estão acordados e são filhos da luz, também faz ecoar a voz de Jesus, ainda não registrada no sinóticos, ao chamar os discípulos de luz do mundo (Mt 5, 14). É da nossa natureza cristã estarmos iluminados em Cristo, de sorte que cai bem a admoestação paulina: “Não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios” (1 T 5,6). A Liturgia desperta-nos para que estejamos atentos e dispostos.
No contexto de quase ultimato diante do retorno do Senhor como juiz, soa bem a parábola dos talentos (Mt 25, 14-30). Ela nos serve de alerta. Ela nos acorda para reconhece-los e multiplica-los, enquanto houver o tempo da espera. É preciso lucrar os dons recebidos em favor do Reino, traduzido em amor doado, em bem partilhado. Assim, seremos dignos administradores do Doador que, depois de muito tempo, há de retornar para dizer: “Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria! (v. 21). ” A mensagem é clara, dinâmica, proativa. Trata-se da relação muito íntima de colaboração entre a graça de Deus e a ação humana. Daí a importância pedagógica sobre aquele que, tendo recebido um só, “ficou com medo e escondeu o talento no chão” (v. 25).
O juízo definitivo do Doador decorre da preguiça e da malícia inerente à omissão de fazer o bem. Trata-se do mal de não fazer o bem. Ao omitir-se, foi-lhe tirado o que tinha, ou julgava ter “porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (v. 29). Falta-lhe méritos. O “servo inútil” da parábola é uma figura que expressa a situação espiritual dos omissos. Para Deus, são emprestáveis. Por isso, é jogado lá fora, na escuridão. Observa-se: Jesus não usa a figura do inferno de fogo, própria para os malfeitores, mas a imagem da escuridão fria onde se rangem os dentes (v. 30).
No contexto da Jornada Mundial dos Pobres, nossos talentos podem ser frutificados para criar mecanismos de redução da pobreza. Para tanto, nada de enterrá-los.