Somos convidados a ir com Jesus a Jerusalém, na proximidade da Páscoa, através do evangelista João (Jo 2, 13). O Senhor encontra no templo vendedores e cambistas sentados. Fez o chicote de cordas e expulsou-os. Aos vendedores de pombas, porém, disse: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio! ” (vv. 15-17). Cena forte e conflitante.
Jesus se confronta com a prática comercial no templo. Sua atitude expressa zelo total pelo culto. Seu sentimento equivale à “ira santa” de repulsa aos vendilhões. Apenas em respeito aos pobres, não derrubou as mesas dos vendedores de pombas. A interpretação de tais gestos e palavras é dada pela recordação dos discípulos: “A paixão por tua casa me devora”, do salmo 69(68),10.
Em contrapartida, os judeus que viram e ouviram, reagiram diante da atitude: “Que sinal mostras a nós para agir assim? ” (v. 18). Na resposta, há uma mudança de significado, só compreendido após a Páscoa. Ao dizer da destruição do templo, como sinal a ser levantado (ou redivivo) em três dias, Ele se referia ao templo do seu corpo ressuscitado (v. 20-22).
Também somos confrontados por Jesus à purificação do culto. Devolvamos ao templo sua função cultual! A sedução lucrativa sempre ronda entre outras. Neste sentido, a revisão de condutas é necessária para os ministros ordenados e o conjunto do povo sacerdotal (leigos).
Todavia, diante do simbolismo da destruição do templo, o importante não é devolver-lhe a pureza de sua função cultual, mas aceitar que a liturgia foi totalmente renovada. Desde a Páscoa, o Corpo do Senhor é o novo e verdadeiro templo. O culto não se faz sem Jesus. Ele é o mediador entre o Pai e nós. À luz da ressurreição, Jesus está no centro da Liturgia eclesial.
Após a Páscoa, os discípulos se recordaram do que Jesus dissera e acreditaram na Escritura e na palavra dele (v. 22). A experiência com o Ressuscitado tornou-se o grande e decisivo sinal para a compreensão e aceitação do ato de fé em Jesus, o Verbo-Palavra (1, 1-18), Senhor e Deus (20, 28).
Toda renovação litúrgica passa pela adoração a Deus “em espírito e em verdade” (4, 24), em Cristo e por Cristo na unidade do Espírito. Por isso, é útil revisitarmos a Constituição sobre a Sagrada Liturgia ao afirmar a presença de Cristo no e pelo qual celebramos os mistérios da fé.
A Constituição define a Liturgia como sendo o “ exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros”. (SC 7) Significa que Cristo age, em colaboração com o Espírito Santo.
Jesus presente pelo Espírito, através dos sinais sacramentais, torna-os sagrados e santificadores. Logo, trata-se de salientar e respeitar a dimensão sagrada e santificadora da Liturgia na sua dinâmica relacional ao Pai, por Cristo, no Espírito com a Igreja.
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A Campanha da Fraternidade em si mesma não atrapalha nem concorre com a Quaresma. Ao contrário, vivifica o tempo quaresmal pela proposta prática do ensinamento de Jesus: jejum (ascética ou superação de si mesmo), esmola (caridade e ação social), a oração (espiritualidade ou mística). Juntos favorecem a gratuidade do dom. Apontam para a união entre culto e ética.
Quando não há motivações ideológicas e partidarismo político –e não deve haver- a Campanha da Fraternidade só favorece a Quaresma e a existência cristã. Sua motivação é a fé em Cristo Jesus que inclui a caridade teologal e social sem dicotomias ou dualismos. Faz ver os irmãos e irmãs sofredores para julgar e agir solidariamente. Para tanto, a ação é auxiliada pelas ciências humanas, a fim de relacionar fé e razão, aliás, marca histórica do bom catolicismo.