Um dos aspectos consideráveis da experiência pascal dos primeiros discípulos é o encontro marcado pelo Senhor: “Ele vos precede na Galileia” (Mt 28, 7).
A sutileza a ser destacada é que Jesus anuncia e prepara o reencontro; além disso, espera antes que cheguem, mas não marca a hora. Deste modo, reaviva a expectativa dos amigos e causa-lhes enorme surpresa.
A experiência do reconhecimento do Ressuscitado acompanha a Igreja de todos os tempos, em certo sentido. A comunidade dos fieis é convocada e reunida pela Palavra para celebrar a fé, especialmente durante a Eucaristia. Atualiza a vivência dos primeiros, de modo sacramental. Ele toma a iniciativa, mediante a ação prévia do Espírito Santo, na Liturgia e nos corações dos crentes. Faz acontecer a memória viva de seu amor.
A comunidade eclesial dos Atos serve de modelo renovador do ânimo de nossas assembleias: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2, 42). Importa sublinhar a assiduidade. Ela intensifica a experiência da Presença no ensinamento apostólico, na convivência com os irmãos de fé, na comunhão eucarística e nas orações. A propósito, recordemos a promessa do Jesus terreno: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20). Portanto, se torna assíduo na participação eclesial quem O descobre nas expressões da vida comunitária.
O Ressuscitado está vivo e presente e atuante para salvar, curar e libertar, despertando ao amor prático, gratuito e desinteressado. Certo disto, exortava o Apóstolo Paulo aos cristãos de Roma: “Que vosso amor seja sem hipocrisia, detestando o mal e apegados ao bem; com amor fraterno, tendo carinho uns para com os outros, cada um considerando o outro como mais digno de estima” (Rm 12, 9-10). Somente Jesus, reconhecido nas assembleias eclesiais, nos faz perceber a alteridade a ser aceita e respeitada e promovida, no tornar-se próximo do outro.
A vivência fraterna em Cristo possui forte conotação pascal. Assim, declara João com ênfase: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Aquele que não ama permanece na morte” (1 Jo 3, 14). A ética cristã do amor reproduz o mistério da morte de Jesus, geradora de vida, nos seguintes termos: “Nisto conhecemos o Amor: ele deu a sua vida por nós. E nós também devemos dar a nossa vida pelos irmãos. Se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê o seu irmão na necessidade e lhe fecha o coração, como permanecerá nele o amor de Deus. Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade” (v. 16-18). Trata-se do amor sócio e caritativo chamado a ser afetivo e não somente efetivo e eficiente. É alimentado pela ágape, que é a virtude teologal da caridade.
No Domingo da Oitava Pascal, a Igreja se reconhece também como sendo a pátria do perdão: “Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes serão perdoados” (Jo 20, 23). Reencontra igualmente a misericórdia na atitude de Jesus que recebe e recoloca Tomé, outrora incrédulo, no grupo dos apóstolos. Jesus quis ir ao seu encontro para que recebesse o dom pleno da fé.
Enfim, o Papa Francisco nos tem ensinado, com atitudes e palavras, a sermos misericordiosos e afetuosos, na ação missionária e evangelizadora, indo às ruas, isto é, ao encontro do outro, sobretudo, dos que vivem nas periferias sociais e existenciais. Ele quer uma Igreja em saída. Tal atitude poderá despertar a fé em muitos, se Deus atuar com sua graça. Então, haverá para eles o reencontro com a Divina Misericórdia. Para tanto, a oração sempre há de preceder e acompanhar a saída de quem parte em qualquer missão.