A comemoração de todos os fiéis defuntos existe para nos lembrarmos de orar por eles.
O segundo Livro de Macabeus ensina que se trata de um pensamento santo e salutar (12,46). Inclusive, é uma das obras espirituais de misericórdia. Assim sendo, desde o início, os cristãos rezavam pelos que morreram e ofereciam o sacrifício da missa em sufrágio de suas almas. Baseavam-se no artigo da fé: Creio na comunhão dos santos. Esta se expressa também na intercessão de uns pelos outros, pois o Cristo une os membros do Corpo da Igreja, vivos e defuntos, no seu amor.
Ilustra-nos o exemplo de Santa Mônica e de Santo Agostinho nas Confissões. Ela, antes de morrer, em 387, expressou seus últimos desejos: “Enterrai este corpo em qualquer parte e não vos preocupeis com ele. Só vos peço que vos lembreis de mim diante do altar do Senhor, onde quer que estejais”. Após a morte, antes do sepultamento, Agostinho registra a celebração eucarística e as preces, ao dizer: “Nem mesmo chorei durante as orações que vos dirigimos, ao ser oferecido o Sacrifício da nossa redenção pela defunta, cujo cadáver já estava depositado junto do sepulcro, antes de o enterrarem, como ali é costume. Nem sequer chorei durante as preces”! Após ter serenado seu coração, faz as preces pela mãe: “Deus do meu coração, minha glória e minha vida, esqueço por um momento as boas ações de minha mãe, pelas quais alegremente vos dou graças, para vos pedir perdão de seus pecados”. Finalmente, também pede orações por sua mãe e por seu pai aos leitores de suas Confissões, dirigindo-se a Deus: “…inspirai a todos os que lerem estas páginas que se lembrem, junto ao altar, de Mônica, vossa serva, e de Patrício, outrora seu esposo, pelos quais me introduzistes nesta vida, dum modo tal que eu não compreendo”. Na realidade, Agostinho recolheu da tradição o hábito de orar pelos mortos.
Uma data coletiva de oração pelos fiéis defuntos é posterior aos vários testemunhos de orações por ocasião do falecimento do cristão. O primeiro testemunho histórico se encontra na primeira metade do século IX quando se comemoravam nos mosteiros todos os mortos da própria comunidade e seus benfeitores. No início do século citado, Amalário escreve: “Após o ofício dos santos, inseri o ofício dos mortos, pois muitos saem deste mundo sem serem logo recebidos na companhia dos bem-aventurados”. Além das preces em data coletiva, é clara a alusão ao purgatório ou à situação desigual dos mortos necessitados de oração. No entanto, coube ao abade Santo Odilão de Cluny fixar, em 02 de novembro, um dia comemorativo para todos os fiéis defuntos com ofício e missa própria. Da prática monástica, o costume foi acolhido pela Igreja no Ocidente. Eis a origem do dia de finados.
Pelo poder das chaves entregue por Jesus ao apóstolo Pedro, a Igreja Católica aplica as indulgências aos mortos conforme algumas condições. No dia 2 de novembro, lucra-se uma Indulgência Plenária, aplicável aos defuntos, mediante uma visita à igreja, na qual se reza o Pai-nosso e o Credo, tendo feito a confissão sacramental, participado da comunhão eucarística e rezado na intenção do Papa. Do dia 01 ao dia 8 de novembro, aos que visitarem o cemitério e rezarem pelos defuntos, tendo participado da confissão sacramental, da comunhão eucarística e tendo rezado nas intenções do Papa, concede-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos. Participar destes meios de oração em favor de nossos irmãos falecidos é verdadeiro ato de caridade e é obra de misericórdia.