Jesus nos diz que “quem entra pela porta é o pastor das ovelhas” (Jo 10, 2).
Aplica a si a simbologia do pastor outrora reservada ao Senhor Deus como condutor do seu povo. A seguir, modifica o sentido da relação ao dizer: “Eu sou a porta das ovelhas” (v. 7). Com tal modo de dizer, afirma ser o único Salvador, pois nos dá acesso à salvação. É dela o mediador. Desse modo, expõe sua condição divina. Enfim, contrapõe-se ao ladrão que é matador e destruidor, pois é o doador da vida: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (v. 10). Consequentemente, Ele nada nos tira, mas, ao contrário, tudo nos acrescenta e plenamente.
Do Pastor, que é Cristo, aos pastores da Igreja, ordenados bispos e padres, brota a decisão pessoal de segui-lo, dando a própria vida pelo compromisso diário de doação generosa de si, no serviço amoroso. Por isso, desinteressado de lucro ou de vantagens iniquas.
Na raiz de cada vocação ao sacerdócio, a figura do Bom Pastor está fortemente presente. Ele chama. Ele convoca. Ele interpela. No despertar e no desenrolar da vida e do ministério sacerdotais, a mesma divina presença favorece a perseverança, a renovação das disposições e a alegria do sim, mesmo diante dos sofrimentos e até de decepções. A conformidade com Cristo se torna, então, vocação ao seguimento da cruz e ao discipulado na missão de evangelizar, de santificar e de governar a fim de congregar.
Impressiona a contraposição que Jesus faz entre o pastor, Ele próprio, e as figuras do assaltante e do estranho e do mercenário. As ovelhas desconhecem a voz dos estranhos e dos demais. Portanto, a semelhança com o Bom Pastor ocorre quando o ministro da Palavra, pelo ensinamento, introduz ao conhecimento de Jesus. O aprendizado na intimidade com o Senhor faz discípulos (as). Eis a função mediadora da pastoral dos presbíteros.
Tais considerações tocam o coração do bispo e do padre que mantêm em si e cultivam com amor o desejo de serem autênticos pastores; e, por isso afastam para bem longe a tentação de se tornarem outras figuras. Aliás, Jesus declara: o mercenário não é pastor (v. 12). Vale para os ministros uma reflexão e até um exame de consciência sincero e detalhado.
Sempre retorna para nós a observação do Mestre: “A colheita é grande, mas os operários são poucos” (Lc 10, 2). A constatação ocorre em todos os tempos e se faz dramática em nossos dias em alguns lugares. No entanto, as estatísticas apontam para o aumento crescente das vocações em todo mundo com certo decréscimo em certas regiões.
Na Diocese de Iguatu, é promissor o número de seminaristas. Entretanto, mesmo que todos sejam ordenados sacerdotes, estão muito longe de preencher as necessidades diante dos desafios e das possibilidades em aberto da Pastoral Orgânica. Sempre precisaremos de maior número de padres. No entanto, a história da Igreja comprova que é melhor a qualidade do que a quantidade. Poucos, mas bons, e de preferência santos e abnegados. Para tanto, se investe na Pastoral Vocacional e na formação e no discernimento, através do Seminário com sua equipe formativa e educativa.
Igualmente retorna para nós o apelo do Mestre, que há de ser acolhido como ordem e cumprido como dever: “Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para sua colheita” (Lc 10, 12). Jesus condiciona sua obra ao envio de pregadores e à oração. Deste modo, ensina a necessidade da graça para o chamado, o envio e a missão. A oração brota da necessidade e do desejo de supri-la. Orando pelas vocações, nós assumimos a intenção do próprio coração de Jesus, que a formulou como sendo desejo seu, que há de se tornar desejo nosso. Portanto, a vocação é a resposta divina à comunidade que pede e não produto de estratégias humanas. Nada impede, porém, que se faça propaganda vocacional.