Jesus disse que a messe é GRANDE, mas os trabalhadores são POUCOS. Mandou que pedíssemos ao Pai que envie operários para a Obra. Ele mesmo, o Galileu, embora pregasse às multidões chamou alguns. Chamou apenas Doze e, mesmo assim, sofreu decepção (se podemos dizer desse modo…) com um deles. Ao final, ficaram somente Onze.
Quanto aos 72, se de fato representam as nações da época, seriam um para cada uma. Portanto, pouquíssimos. Além do mais, o ensinamento é o de contar mais com a generosidade de quem se dispõe a ir do que com os recursos materiais bastante escassos: levar consigo o mínimo necessário de um par de sandálias e uma túnica.
Jesus louva o pequeno rebanho porque foi do agrado do Pai dar-lhe o Reino. Jesus valoriza a pequena fé do tamanho da semente de mostarda para remover um grande obstáculo. Jesus aceita alguns pães e peixinhos para multiplica-los e saciar a multidão. Não recusa a pequena ajuda do Cirineu em meio à enorme fadiga e à dor extrema.
Jesus louva a pobre viúva que deu tudo de si ao doar o pouco que possuía para o tesouro do templo e não louva os ricos que davam mais e, certamente, não davam tudo. Próprio da economia da salvação é contrastar com a matemática do mundo. Outra lógica. Jesus, sem ser assistencialista, recompensa um simples copo d´água dado de coração. Ensinou, com palavras e gestos, a crer no amor de Deus expresso em pequenas boas ações.
É inesquecível a vitória da CRUZ, o paradoxo cristão por excelência: a Vida que nasce da morte. Quando chegou sua hora, Jesus parecia derrotado e ter perdido até o pouco do que possuía. Mesmo assim, teria ficado com o melhor, Maria- sua Mãe- e o discípulo amado e Madalena. Diante da cruz, o pouco pode ser muito e o muito pode ser pouco. Depende da lógica de si mesmo: vale mais um pequeno ato de amor do que a tonelada de desamor; vale mais o perdão do que a retaliação; vale mais a porta estreita a conduzir ao paraíso de Deus do que a porta larga, porém, aberta à perdição. Abracemos a cruz!
Ó Sabedoria e Loucura da Cruz! Ela nos faz olhar e valorar diferente. Assim escreve São Paulo: “Vede, pois, quem sois, …não há entre vós muitos sábios, segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de famílias prestigiosas” (1Cor 1,26). Este olhar contemplativo é adequado, logo após a canonização de Irmã Dulce. De fato, a Obra de seu amor-gigante se origina de pouquíssimos recursos iniciais: apenas pobres esmolas.
O Cardeal Newman, convertido e também canonizado, confessara que jamais pecou contra a luz. Intelectual completo reconheceu a vitalidade da pequenez: “A graça atua sempre por intermédio de poucos. Os instrumentos do Céu são: a visão penetrante, convicção firme, resolução que não se deixa dominar, o sangue do mártir, a prece do santo, a ação heroica, a crise momentânea, a energia concentrada numa palavra e em um olhar”. (In: A posição atual dos católicos). A pequenez se torna sinônimo da grandeza. São Paulo que o diga: “quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10).
Entendemos por que o Apóstolo afirmou em tom de pergunta: “Não sabeis que os santos julgarão o mundo? ” (1Cor 6,2). Eis a delicada ironia de Deus: a magnanimidade de seus santos e santas, poucos e humildes heróis. Nós os aplaudimos de pé.