A Solenidade da Epifania faz-nos ver a manifestação divina naqueles que trazem as riquezas do Oriente. Primeiramente, através do anúncio profético sobre a futura restauração de Israel, após o exílio. Israelitas se reúnem de lugares distantes e recebem a riqueza do exterior. “Todos se reuniram e vieram a ti. Teus filhos vêm chegando… com eles virão as riquezas de além-mar …trazendo ouro e incenso…” (Is 60, 4-6). Com Deus e a colaboração humana, tudo prospera.
A prosperidade deve-se à mudança da condição de escravos à de livres reconstrutores de uma sociedade nacional, participativa e religiosa. Houve crescimento dos bens materiais. Ocorreu a recepção da riqueza de valores culturais estrangeiros, mas purificados. A estada na Babilônia muito enriqueceu a cultura judaica. Haja vista a literatura bíblica, aberta ao universalismo da Mensagem, sobretudo, nos textos sacerdotais. Haveria uma recepção ulterior, pois “os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão da tua aurora” (v. 3). Aconteceu com a chegada de Jesus e a expansão do cristianismo. A história universal registra a difusão da cultura judaico-cristã do Oriente ao Ocidente. Da Europa ao Novo Mundo. Eis um dos aspectos valiosos da Epifania.
A narrativa dos sábios do Oriente, segundo a perspectiva de Mateus, demonstra com singela beleza o cumprimento anunciado pelo universalismo profético (Mt 2, 1-1). A estrela do Messias é vista pelos magos orientais. Símbolo da procura da fé, a luz do desejo os conduz pela estrada que os leva ao encontro do Rei Menino a ser adorado. Ao encontra-lo com Maria, sua mãe: “abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (v. 11). Os reis magos trouxeram presentes e retornaram, eles sim presenteados por “uma alegria muito grande” (v. 10). Felicidade da experiência do Encontro ou da mútua recepção.
Os representantes das nações, em todos os tempos, levaram mais do que trouxeram, pois do Oriente ao Ocidente, a luz de Cristo se difundiu na mútua recepção. O próprio catolicismo é a expressão histórica desta milenar enculturação do cristianismo em sua forma ocidental com dificuldades e êxitos, desacertos e acertos a caminho da harmonia. Houve enriquecimento.
Herodes, representante do poder de Roma, “ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém” (v. 3). Quis matar o Menino que seria, um dia, afinal, crucificado por poderes hostis, tanto judaicos quanto romanos. Mateus sinaliza, desde o nascimento até a morte, a rejeição que acompanharia a aceitação de Jesus. Aos pés da cruz, é o centurião romano com a soldadesca, estrangeira e pagã, a inaugurar o ato de fé: “De fato, este era filho de Deus” (27, 54). A Epifania do Senhor comporta em todos os tempos semelhante e saudável contradição.
Paulo, doutor dos gentios, entendeu a Epifania revelada na cruz com a universalidade da salvação nos seguintes termos: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3, 6). A riqueza da herança a ser conhecida e recebida é Jesus, salvador de toda a humanidade. Os gentios são incorporados. Ricas heranças culturais em Cristo seriam partilhadas por uma recepção purificadora.
O Apóstolo sublinha: “de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro da separação e suprimido em sua carne a inimizade” (2, 14). Assim sendo, a Epifania do nascimento se torna plena manifestação no desfecho da Cruz, pois, por meio de Jesus Cristo “nós, judeus e gentios, num só Espírito, temos acesso junto ao Pai (2, 18). Eis a “a extraordinária riqueza de sua graça” (2,7) que os sábios do Oriente, nossos representantes, encontraram. Logo, a catolicidade é uma nota característica da Igreja, sentido de sua existência e missão. Em saída, ela convive com o atual “pátio dos gentios”, dialogante e receptiva, na aceitação e na rejeição.