Animação bíblica da pastoral é tema próprio do mês de setembro. Na verdade, a educação para ler, meditar e orar a partir da Palavra de Deus, contida na Sagrada Escritura, faz parte da pedagogia da fé. Favorece a compreensão e a participação na Sagrada Liturgia e ao testemunho da vida cristã autêntica. Eis a motivação da pastoral animada pela Palavra.
A Bíblia é composta de livros, pequena biblioteca de qualidade: 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento. Podemos afirmar o que ensinou São Paulo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça…” (2 Tm 3,16).
Pelos textos inspirados, Deus nos fala e se auto- comunica. Nós respondemos e nos comunicamos com Ele. É a chamada história da salvação inserida na cultura de um povo. Trata-se da história e da cultura de Israel, em sintonia e em distinção dos povos do antigo Oriente.
Quanto ao Novo Testamento, ele contém a experiência dos primeiros cristãos. Não se explica sem a cultura e a religiosidade do povo de Jesus. É a memória da experiência e do testemunho dos discípulos e dos que constituíram o início da Igreja. Lembremos o que disse João: “O que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida… vos anunciamos para que estejais também em comunhão conosco” (1 Jo 1, 1-3). Portanto, a tradição oral e testemunhal (apostólica) é que precede os textos.
Inspiração bíblica não é psicografia. Integra um longo processo humano, cultural, histórico, literário, fruto de uma existência pessoal e de vivência social. Supõe a visão de mundo dos redatores, de sorte que podemos dizer: Deus escreveu certo, porém por linhas tortas dos caminhos humanos. As Escrituras dizem, pois, bem mais do que lemos de imediato. Daí a necessidade de muitas ferramentas de interpretação que os estudiosos conhecem e usam. Por isso, biblistas e exegetas nos ajudam. São úteis suas Introduções aos textos inspirados.
Nós católicos dizemos: Bíblia e Tradição Apostólica e Magistério. O Magistério garantiu a autenticidade dos textos bíblicos e sua interpretação correta ou legítima. Sem ele, não teríamos o Cânon do Novo Testamento, isto é, a seleção e a recepção dos textos como sendo inspirados cujo processo só teve acabamento e aceitação no final do primeiro século.
O modo católico de ler e de viver a Bíblia só pode ser em sintonia com a Tradição Apostólica e o Magistério da Igreja. Para católicos, não existe a interpretação livre, subjetiva, arbitrária. A respeito, bem sintetiza o Concílio Vaticano II: “A interpretação da Escritura está sujeita, em última instância, ao juízo da Igreja, que exerce o divino mandato de guardar e de interpretar a Palavra de Deus” (DV 12, 3).
A relevância prática e existencial de ambos os Testamentos se percebe em duas sentenças carregadas de sentido salvífico: “Não se trata de uma palavra sem importância para vós: é vossa vida” (Dt 32,47); “Estes sinais foram escritos neste livro para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20, 30-31). Tratam-se, pois, de mensagens e de ensinamentos de vida e de fé a exigir decisão, adesão, vínculo, compromisso.
Sejamos praticantes da Palavra e não apenas ouvintes ou leitores! (Cf. Tg 1,22). Se formos cumpridores, a nós se aplicam a sentença de Jesus: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza” (Lc 10, 16). Façamos da nossa vida familiar, social e profissional uma autêntica liturgia da Palavra, na patena do ofertório de nossa existência, relacionando a fé com a ética e a moral de atitudes.