SANTA DULCE DOS POBRES

A canonização de Irmã Dulce, da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, é o reconhecimento de sua vida santa.  Viveu o amor-caridade, de modo heroico, a favor dos pobres e doentes da Cidade de Salvador, na Bahia. Frágil de saúde e forte de espírito, iniciou sua obra social, educativa e hospitalar, a partir do nada, “com a cara e a coragem”, apenas com doações que ela mesma pedia. Os doadores também estão em festa.

A mensagem da nova santa é o amor vitorioso de batalhas ganhas. No confronto, a oposição o purificou e o afirmou. A indiferença até tentou inutilizá-lo e rebaixá-lo.  Porém, inutilmente. Embora frágil e nunca fragilizada, sua “fé era operosa pela caridade” (Gl 5,6). Invencível.

Através da ida sem volta da sua opção de dirigir-se aos esquecidos, saindo diariamente do convento ao encontro deles, tornou-se a doce mãe dos pobres e dos “alagados”. Estampou, mesmo sem querer, a extensão da desigualdade social e da miséria que ainda persistem.

Olhar nos olhares de Dulce. Passear nos passos de Dulce.  Abraçar os abraços de Dulce. Sonhar os sonhos de Dulce.  Preocupar-se com as preocupações de Dulce. Deixar-se levar pela ventura da graça para aliviar à cruz dos pobres, dos doentes, dos últimos, dos invisíveis com a doçura da afeição, é ser mais do que devoto. É ser imitador, imitadora da Santa.

Nela resplandece a graça enquanto beleza do amor vivo, puro e desinteressado. Amor a quebrar resistências, a derrubar opositores, a atrair colaboradores e recursos. Enfim, avançar.

As Instituições foram o contraponto. Quando atrapalhavam, pareciam vilãs. Porém, haveriam de cooperar com ela, a Protagonista.   Tanto o governo quanto a Igreja.  A Igreja depuraria o carisma. Acrisolaria para confirmá-lo. Confiava ou desconfiava que algo de grande existia naquela mulher, ao mesmo tempo forte e tão frágil, determinada e tão submissa.

Qual o carisma de Santa Dulce? O amor incondicional e preferencial pelos pobres. Nada tem do gosto sedutor, encontrado no mercado da variedade dos amores. É o amor sobrenatural, próprio do desejo dos santos e santas: “Aspirai aos dons mais altos” (1 Cor 13, 31).

No entanto, um carisma, quando peculiar, para ser aceito como autêntico em sua liberdade de expressão, necessita do reconhecimento da autoridade eclesial. Esta também é dom do Senhor para discernir tudo e ficar com o que é bom (1Ts 5, 21), afim de não extinguir o Espírito (v. 19). Coube a Dom Eugênio Sales, Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, esta difícil, nobre e útil tarefa.

Dom Eugênio, como pai e pastor, convenceu Irmã Dulce a viver fora do convento, por algum tempo, sem deixar de atuar seu carisma junto aos pobres mais pobres. Enorme provação! Todavia, chegada a hora de Deus, reintegrou-se feliz à vida comunitária da sua Congregação.

Com a vinda do papa São João Paulo II a Salvador e, sendo indicada ao Prêmio Nobel pelo Presidente Sarney, ela se tornaria conhecida além das fronteiras. Conhecida e reconhecida.

Santa Dulce dos Pobres nos recorda que é possível amar os outros como amamos a nós mesmos e podemos fazer tudo na caridade (1 Cor 16, 14). Ensina-nos que “a caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,10). No céu, ela há de continuar a fazer o bem aos empobrecidos da terra brasileira que a ela recorrerem. Santa Dulce dos Pobres, intercedei por nós!

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