A Campanha da Fraternidade 2018 apresenta o tema da superação da violência em íntima união com a motivação do lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8). Jesus nos ensinou e, sobretudo, viveu a fraternidade, aceitando ser nosso irmão, até as últimas consequências. Dele se diz: não se envergonha de chamar-nos de irmãos (cf. Hb 1,11). Assumiu-nos ao nascer e ao morrer.
Deter-se no Crucificado é perceber o paradoxo do mistério da iniquidade quando se cruza com o mistério da piedade, na Paixão e na morte do Justo. Jesus assumiu a violência mais cruel, feita ao Inocente, no seu amor, incondicional e infinito por nós. O sublime amor transformou tudo em perdão. Tornou-se mártir por excelência. Seu martírio inaugurou o caminho heroico da coragem de sermos promotores da paz, sendo nós mesmos pacíficos. Acendeu a esperança na páscoa da ressurreição da carne quando seremos libertados de quaisquer opressões, inclusive a da nossa própria culpa. Nossa ressurreição é o já começado e o ainda-não concluído.
Do Crucificado, nosso olhar compassivo se dirige aos males do mundo. Trata-se da primeira estratégia de ação, a mais simples, para que a violência estampada não se torne banalidade do mero olhar cinematográfico ou televisivo que se distrai com os horrores, comendo pipoca.
Verdadeiramente, Jesus Cristo assumiu todas as dores na sua divina carne violada. Urge contemplá-lo. Por seu olhar, vemos a brutalidade estampada em relações macrossociais, nacionais e internacionais. Relações e relacionamentos feitos por homens e mulheres cruéis. Inclusive por gente bem pensante e religiosa. Ocorre até mesmo no convívio conjugal e familiar
Relações violentas de exclusão, estruturais ou sistêmicas, crescem no Brasil. Avolumam-se desde a atual crise econômica, ética, política. Refletem nos centros urbanos e nos interiores. As razões são históricas e são pós-modernas. Os motivos são conhecidos e divulgados. Poucos, porém, observam que a violência está aninhada no próprio coração. Raros admitem em si mesmos a ira que se aloja dentro e explode no mau-humor, na indelicadeza, na ofensa gratuita e na vingança. A violência possui raízes profundas. Haja vista a corrupção, em geral aceita como simples esperteza. Tais males germinam no solo seco ou na terra úmida dos sentimentos.
A fé cristã chama tais erros de pecado que está na raiz ou “na carne”. Aponta a experiência da graça como remédio, terapia de superação. Psicólogos descobrem-na no ninho escondido do inconsciente de frustrações e carências afetivas ou medos inconfessáveis. Sociólogos apontam o sistema estrutural a manter e promover as injustiças e desigualdades. Impede que todos tenham as mesmas oportunidades na vida, de educação, de trabalho, de remuneração e outros.
O tema da Campanha é oportuno e necessário. Favorece nosso retiro quaresmal porque possui vínculos profundos com o cristianismo originário, a partir da vivência de seu Fundador que suportou a violência extrema até a morte de cruz e deu ao mundo as razões da esperança.
Ela é realista na sua verdade e crueza. O realismo não permite sonhar quimeras de que brasileiros e brasileiras são de índole cordial, ordeira e pacífica. Convoca à obra comum e corresponsável de levantar o gigante que foi anestesiado. Enorme empreitada.
Ela é pedagógica e ilustrativa, pois não propõe soluções idealizadas, em geral próprias da oratória de cínicos, populistas, demagogos e sofistas. Tudo no mesmo, pois tais falas e práticas se tocam. Aponta para a superação. Nisto é positiva. Indica a superação factível. Além disso, dribla o desânimo, a desesperança e o mau-humor circunstanciais. Injeta confiança em Deus.
O Texto-Base, proposto pela CNBB, é muito bom e bastante simples, isto é, acessível à compreensão e à prática consistente. Está ao alcance de você, meu irmão e minha irmã. Faça, pois, bom proveito!