O Ano Litúrgico vai chegando ao término.
Por isso, as leituras do trigésimo terceiro domingo do Tempo Comum abordam parte da visão do fim, segundo Lucas 21, 1-19. A temática se desenvolve até o versículo 36. Segue esta sequência: a ruína de Jerusalém, o tempo da Igreja, o retorno do Filho do Homem.
Quanto ao fim de Jerusalém, ocorrido por volta do ano 70, profetizou o Mestre: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida” (v. 6). Acrescentou: “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação” (v.20). Serve de prefiguração do julgamento final da história, que coincidirá com o segundo advento de Jesus.
Quanto ao tempo da Igreja, é o fim de uma época e a inauguração de nova e última etapa, que não terminará tão cedo. Coincide com a proclamação dinâmica e progressiva do arrependimento, para a remissão dos pecados, em nome de Jesus, a todas as nações (24, 47). Tal tempo supõe os sinais precursores, especialmente a perseverança, em meio às mais cruéis perseguições até o martírio (vv.8-19). No entanto, Jesus garante sua assistência aos cristãos: “Mas nem um só cabelo de vossa cabeça se perderá” (v.18). Portanto, coincide com a manifestação histórica da fidelidade eclesial em resposta aos cuidados do Senhor. Ocorre pelo martírio de muitos, em todas as épocas, e pela perseverança dos confessores da fé.
Quanto ao retorno do Filho do Homem, não será imediato ou ao curto prazo. Por isso, estará sempre sujeito a especulações e falsas interpretações. Daí a advertência: “Atenção para não serdes enganados, pois muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu, e ainda: O tempo está próximo! Não os sigais! ” (v. 8).
Enquanto o tempo da Igreja se desenvolve, a história das nações continuará com suas guerras e subversões. A história do mundo conhecerá outros infortúnios, tais como: terremotos, pestes e fomes (v. 10-11). No entanto, isto ainda não é o fim (v. 9), mas prefiguração dele, no sentido que tudo passa, normal ou tragicamente. É a lei da finitude.
O conteúdo do fim é a Pessoa divina, que nos assumiu no tempo para a eternidade: Jesus Cristo. Daí o apelo à vigilância: “Ficai acordados, portanto, orando em todo momento, para terdes a força de escapar de tudo o que deve acontecer e ficar de pé diante do Filho do Homem” (v. 36). É o próprio Senhor que retorna para a instauração do Reino de Deus. Logo, é um novo e definitivo começo que surgirá e haverá o juízo dos construtores e devastadores da história.
A poética do discurso de Jesus, todo ele feito no gênero apocalíptico, impressiona. Presta-se, devido à riqueza simbólica, a tanta fantasia, a muita imaginação e a vária especulação. Melhor é se deixar impactar com a figura central: o próprio Jesus. Ele vem com toda a imponência divina: “Verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com poder e grande glória” (v. 27).
Os abalos cósmicos, as catástrofes, as conflagrações servem para dar à meditação do discurso sobre o fim a centralidade ao Cristo Jesus. Importa o reconhecimento universal de seu senhorio. Tais acidentes levam a certo acabamento, mas não ao fim destrutivo. Trata-se da chegada do Senhor como sendo o ponto ômega da história.
Quem crê, sabe que o definitivo opera com sua força vital dentro do provisório: “minhas palavras não passarão” (v. 33). Por isso, o tempo da Igreja é caracterizado pelo serviço à Palavra: no anúncio, nos sacramentos e no testemunho. Aproveitemos para revisar pela “palavra que não passa” nosso tempo pessoal, social e comunitário.